Jovens: Contraofensiva do “sentido da vida”

“Alguém de vós quando seu filho lhe pedir um pão, lhe dará uma pedra? Ou quando lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra? (Evangelho de Mateus, capítulo 7 versículos 9 e 10).

Esta afirmação do Mestre de Nazaré, já há mais tempo, estando em contato contínuo com a geração nova, me leva a uma sensação, que paulatinamente adquire comprovações: há uma contraofensiva do “sentido da vida” nos jovens atuais!

A modernidade entrou em crise. Com a “crise da modernidade”, reforçada pela recente experiência da humanidade com a pandemia covídica, transmonta lentamente a constelação de “novos valores”. Declina o sol negro do niilismo, fruto da modernidade e de seu secularismo. Volta a brilhar dentre as nuvens o sol do “sentido subsistente”. É verdade, esse sentido nunca declinou por completo, até por ser impossível, mas tinha sofrido um eclipse, eclipse que não se deu no céu da humanidade toda, mas, mais no firmamento das classes hegemônicas, ainda que com reflexos negativos sobre a humanidade.

Está lançada, nos nossos novos tempos, a contraofensiva do “sentido”, cujo sinal mais claro é o que está sendo convencionado em chamar de a “volta do sagrado”. Responde também por vários outros nomes: busca de experiência espiritual, nova consciência religiosa, volta a Deus, reemergência do sagrado, revivalismo religioso, efervescência mística, dessecularização, reencantamento do mundo. Seja como for, o sagrado foi, é e sempre será a terra-mãe do sentido da vida. E, uma vez que na raiz do niilismo está negação de Deus, só a afirmação de Deus firmará o sentido. Pois, quem pode vencer o nada senão Deus? Quem pode dominar o caos senão o Criador? Como se vê, aqui entra Deus como exigência da realidade, mais que como postulado do desejo.

Sem dúvida, o vértice niilista, provocado pelo secularismo, continua ainda a submergir algumas pessoas humanas, às vezes demasiadamente presas a um “intelectualismo” fechado. Mas, o contra-ataque do sentido da vida, sob a insígnia da religião está lançado e avança. O sucesso de tal empresa sinaliza o fim da hegemonia secularista e o início de uma nova hegemonia, sensível ao divino, preanunciando ao mesmo tempo as primícias de uma nova época. Estamos, pois, em tempos de transição, tempos ainda intensamente confusos, pois neles convivem, processos decadentes, talvez os mais numerosos, mas também processos ascendentes, esses, sim, mais promissores. Efetivamente, os sinais positivos, se bem que mais discretos, são sempre os mais fortes e decisivos.

Não há como negar: o que “está no ar” é o cansaço da “sociedade oficial” com o “evangelho secular” e a necessidade que sente do oxigênio de um sentido superior. É particularmente entre os jovens que cresce o desejo e mesmo a demanda premente desse sentido. Os códigos da modernidade declinante não respondem mais a essa demanda. Os jovens pedem “pão”, mas a “sociedade secular” lhes oferecem “pedras”; pedem “peixe” e ela lhes dá “cobras”. Quanto ao pós-moderno convencional, ele só lhes dá o que tem: engana-estômago e, na melhor das hipóteses, aperitivos. Para os jovens atuais, fica, pois, cada vez mais claro que o nada só pode ser vencido pelo “Deus que dá a vida aos mortos e chama a existência às coisas que nada são” (Rm 4,17). Assim, todo o projeto de ressaneamento de “valores”, que permanece fechados à perspectiva espiritual, continuará forçosa, virtual e finalmente niilista.

Os nossos “filhos” pedem o “pão” e o “peixe” do “sentido da vida”. As “pedras” e as “cobras” do “absurdo da vida” não são a sua demanda! A “sociedade secular” precisa entender e responder a “contraofensiva do sentido da vida” dos jovens atuais!

Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo de Pelotas