Justiça Restaurativa: Sarandi forma terceira turma
No último sábado, 11, a cidade de Sarandi acolheu a terceira etapa do curso de Fundamentos de Justiça Restaurativa, ministrado por facilitadoras do Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo, em São Paulo. Parte do projeto desenvolvido em parceria de Superintendência dos Serviços Penitenciários através do presídio local, juntamente com o CDHEP – SP – e Pastoral Carcerária do Rio Grande do Sul, o curso visa difundir as práticas de justiça restaurativa na solução de conflitos. Ao todo, 46 pessoas viveram, entre os dias 02 e 11 de fevereiro, momentos que proporcionaram uma visão diferente a respeito do sistema carcerário. Depois da formatura, no sábado, foi realizado um ato de mobilização pela paz em frente ao Presídio Estadual, em Sarandi.
Justiça Restaurativa
No Rio Grande do Sul, a Justiça Restaurativa se tornou o caminho escolhido pela Pastoral Carcerária desde 2010, ano em que a Pastoral, conhecedora da situação caótica do Sistema Prisional, passou a investir de forma mais intensa na formação de seus voluntários, agentes do Serviço Penitenciário e, também, de detentos visando diminuir o índice de violência e administrar conflitos. Assim, os fundamentos da Justiça Restaurativa estão baseados na metodologia das Escolas de Perdão e Reconciliação – ESPERE – desenvolvida pela Fundación para la Reconciliación em Bogotá, Colômbia e busca aprimorar habilidades necessárias para acolher o conflito e favorecer uma convivência mais humana e menos violenta, abrindo para as possibilidades do perdão, de uma justiça justa e da reconciliação.
Em Sarandi, a turma foi conduzida pelo núcleo de Passo Fundo da Pastoral Carcerária e contou com a apresentação de quatro missionárias da Congregação das Servas do Espírito Santo que partilharam suas experiências de Justiça Restaurativa: Claudia Carolina González Mendoza, antropóloga sociocultural e colaboradora as ESPERE do México; Helena Christo, professora aposentada e membro da Pastoral Carcerária de São Paulo; Stela Maris Martins, formada em Ciências da Religião e em Fundamentos JR pelo CDHEP; Petronella Maria Boonem, doutora e mestra em sociologia da educação pela Universidade de São Paulo com tese sobre Justiça Restaurativa e co-fundadora da linha de Práticas Restaurativas do CDHEP.
Petronella, em conferência sobre a Justiça Restaurativa em Passo Fundo, comentou sobre a importância da formação e da compreensão do conceito de JR. “Existe uma frase que afirma: ‘Quanto maior o dano, maior o potencial restaurativo’. De fato, a Justiça Restaurativa pode ser uma resposta para todos os tipos de dano”, iniciou. “Precisamos reaprender a lidar com a dor humana, com os conflitos e com as violências. Nunca vamos deixar de criar situações conflitivas. A grande aprendizagem é aprender a lidar com a convivência. E o grande desafio é a educação’, enfatizou a pesquisadora que acrescentou, ainda, que é preciso estar atento ao real objetivo da JR. “Que possamos aprender e reaprender a aproveitar um comportamento indesejado para fortalecer os valores da sociedade e não para excluir a pessoa que o faz. Não precisamos educar para a criação de anjos, porque não somos anjos. Precisamos educar gente de carne e osso que se ofende, que tem necessidades não satisfeitas”, concluiu.
Manifestação pela paz
O curso, que durou pouco mais de uma semana, se encerrou no sábado e, depois da diplomação e pronunciamentos, foi realizado, em frente ao Presídio Estadual de Sarandi, um ato simbólico de paz: os participantes colocaram fitas brancas penduradas na cerca em frente ao presídio e realizaram, também, orações e manifestações a fim de fortalecer os presos no sentido de que estão todos torcendo e rezando pela sua recuperação.
Por Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Passo Fundo
Colaboração: Samantha Schepanski e Fernando Luiz Concatto