Leitura orante da Palava de Deus

Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul

Continuamos no mês da Bíblia, em que damos especial destaque à Palavra de Deus como forma privilegiada de encontro com o Senhor. Nos últimos tempos, ganha sempre mais valor na Igreja católica a forma de rezar com a Bíblia, denominada hoje: Leitura Orante ou, como era chamada pelos antigos, Lectio Divina. Como sugere a própria expressão, é leitura, escuta e assimilação da Palavra de Deus na vida, que leva à oração e contemplação. É escutar Deus, hoje: com interação da Palavra de Deus, da Realidade e da Comunidade de fé. O método é antigo, mas ressurge mais forte em certos momentos da história, como atualmente, sobretudo no processo da Iniciação à Vida Cristã.

A Leitura Orante é antiga como a própria Igreja, que tenta caminhar à luz da Palavra de Deus, desde suas origens. A expressão Lectio Divina foi usada, pela primeira vez, por Orígenes (séc. III).

O monaquismo do deserto surge em torno da Lectio Divina: A Palavra de Deus ouvida, meditada e rezada torna-se, junto com o clássico ora et labora (ora e trabalha), base da vida religiosa de então.

No séc. XII, por obra do monge Guigo (1150), houve uma sistematização da Lectio Divina em quatro degraus: Leitura, Meditação, Oração, Contemplação. Ele considera esses degraus como a escada pela qual os monges sobem da terra ao céu. Ele mesmo resume os quatro passos, da seguinte forma: “A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com espírito atento. A meditação é uma diligente atividade da mente que, com a ajuda da própria razão, procura o conhecimento da verdade oculta. A oração é o impulso fervoroso do coração para Deus, pedindo que afaste os males e conceda as coisas boas. A contemplação é uma elevação da mente sobre si mesma que, suspensa em Deus, saboreia as alegrias da doçura eterna”.

As Ordens Mendicantes do séc. XIII (Franciscanos e Dominicanos) também souberam usar a Lectio Divina, colocando-a mais acessível ao povo simples e pobre daquela época.

A contra-reforma da Igreja católica (Séc. XVI), por medo do protestantismo, evitou o contato direto com a Bíblia, fazendo com que fiéis e religiosos estivessem, de certa forma, distantes da Palavra de Deus. Assim, somente o Concílio Vaticano II reabriria as portas para a Lectio Divina (DV 25), devolvendo a Bíblia às mãos do Povo de Deus.

O Monge Guigo fala que a Leitura Orante se processa em quatro degraus ou quatro momentos, em que cada um tem suas características próprias, mas todos se interligam e formam a unidade. O sucesso maior ou menor da mesma e a passagem harmônica de um degrau ao outro depende muito da iniciação e da vivência das pessoas ou do grupo. Os degraus não são simples técnicas, mas etapas do processo normal da assimilação da Palavra de Deus na vida, através da leitura, meditada e rezada.

O sentido dos quatro degraus ou momentos da Lectio Divina ou Leitura Orante explicaremos no programa seguinte.

Que a Palavra de Deus seja fonte de luz para todos nós, especialmente no processo da Iniciação à Vida Cristã, do qual a Palavra de Deus é o livro principal. Que ela seja nossa companheira diária a dar sentido ao nosso viver e a nos conduzir ao encontro daquele que veio como Palavra encarnada, vivendo no meio de nós.

 

 

 

 

 

 

 

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