Maria e o respeito à dignidade de cada ser humano

Em uma sociedade marcada profundamente pelo preconceito e discriminação, um olhar atento e voltado para Maria, Mãe de Jesus Cristo, será, sem dúvida, de grande importância.

Certamente, os que se sentem incomodados e inconformados com tal realidade, e buscam contribuir para a construção de um mundo melhor e mais humano, se sentirão, a partir deste olhar, mais instigados a trabalhar para que toda pessoa, independente de sexo, raça, cor, religião ou condição social seja respeitada com igual dignidade.

Maria, a jovem de Nazaré, nasceu e cresceu em um ambiente dominado pelo preconceito. No evangelho encontramos essa frase em Natanael: “de Nazaré, pode sair algo de bom?” (Jo 1,46). Na verdade, vários grupos sofriam preconceitos em meio ao povo judaico. Mas diante desta realidade onde os pobres, estrangeiros, mulheres e doentes eram discriminados, tem-se de outro lado, segundo as Escrituras, Deus que olha de forma preferencial para todos eles. É exatamente isso que se contempla em Maria. Deus, de fato, “olhou para a humildade de sua serva e depôs poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou” (Lc 1,49. 52). Assim, contemplando Maria, pode-se dizer que cada pessoa, por mais simples e humilde que seja, deve ser reconhecida em sua grandeza e dignidade humana.

Nesta linha de pensamento, pode-se afirmar ainda que todos os que neste mundo sofrem preconceitos ou discriminações poderão encontrar em Deus o mesmo olhar que Maria recebeu. Um olhar de amor, um olhar de predileção. Deus, na verdade, ama a todos indistintamente, pois “faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos” (Lc 5,45). Contudo, somente aqueles que, a exemplo de Maria, souberem dar a devida atenção ao olhar de Deus e deixarem-se envolver por sua graça e seu amor poderão sentir a alegria e a verdadeira paz no coração. Deus é bom para com todos, mas nem todos buscam voltar o coração e a mente para Ele, buscando viver a partir de seu amor.

Além de ser modelo por excelência de alguém que viveu profundamente no amor de Deus e cuja vida só foi fazer a Sua vontade, Maria é também aquela que demonstrou amor profundo pelos outros. Vale recordar aqui a disponibilidade e o cuidado para com sua prima Isabel que estava grávida (cf. Lc 1,39-55) e sua sensibilidade ativa no casamento em Caná da Galiléia, pois soube agir em favor de todos como intercessora junto ao seu filho Jesus Cristo (cf. Jo 2, 12). Ela é, sem dúvida, modelo por excelência de humildade, desprendimento, fé, caridade, serviço gratuito e generoso. Alguém cuja vida sempre foi totalmente para Deus e para o próximo.

Assim sendo, se compreende a razão pela qual na história muitos homens e mulheres desenvolveram um amor filial para com Maria na certeza que ela é Mãe que continua cuidando, protegendo e amparando seus filhos, sobretudo os que mais sofrem e padecem as tribulações neste mundo. Ela é venerada e amada com tantos títulos. Acima de tudo, ela é aquela que nos ensina a amar e a servir. Ela certamente nos quer discípulos de seu Filho Jesus e, por isso, nos leva sempre até Ele, pois sabe que somente n’Ele encontraremos o verdadeiro sentido para a vida. Ele é o caminho e a verdade que nos conduz ao Pai.

Que Maria, Senhora de Aparecida e de todos os povos, interceda por nós e nos ajude a construir um mundo onde todos sejam respeitados e tratados com igual dignidade.

Dom Aparecido Donizete de Souza – bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre