Mensagem para a Quaresma de 2021

Iniciamos, nesta 4ª feira de cinzas o Tempo Quaresmal. A Quaresma é um convite a nos orientarmos, a caminharmos ao encontro daquele que é a fonte do amor e da misericórdia. O Senhor vai conosco nesta viagem, que dura 40 dias. Com Ele aprenderemos a atravessar o deserto da vida, cheio de dificuldades, sofrimentos, empecilhos que podem nos fazer desistir da vida com qualidade que Deus deseja para nós. Neste caminho difícil, o Senhor nunca nos abandona, mesmo que passemos por “vales tenebrosos” (Salmo 23,4).

A tentação do desespero, do desanimo, do abandonar o caminho estará sempre presente, já que o tentador tem um único e claro objetivo: fazer que desistamos de Deus. Desistir de Deus é, em última análise, desistir de si mesmo. Mas o Senhor cuida de nós e nos ampara. Ele jamais desiste de nós. Ele caminha conosco neste deserto quaresmal. Assim como caminhou com o Povo eleito durante os 40 anos no deserto, no meio de agruras, revoltas e sofrimentos. O Senhor está especialmente conosco neste triste período que vivemos, com multidões clamando pelo socorro e pela saúde. Tantos já morreram. Tantos vivem a angústia de serem obrigados a enfrentar o desconhecido inimigo que pode tirar-lhes a vida. Na verdade, para muitos a vida já lhes foi tirada, pois vivem sem esperança.

Como Igreja inserida nas realidades humanas, mergulhada no meio do mundo, estando no mundo, mas sem ser do mundo, como nos ensina Nosso Senhor, o grito de todo e qualquer sofredor ecoa fortemente em nossos corações e em nossas almas.

E para sermos sensíveis aos apelos do Senhor e aos apelos dos irmãos, é que o período quaresmal tem uma particularidade, uma identidade: é o tempo da conversão, é o tempo da penitência e do jejum, é o tempo da intensificação da oração e da caridade fraterna potencializada. Estas características próprias do tempo quaresmal buscam colocar-nos em uma dimensão diferente. Visam libertar-nos, visam tornar-nos mais leves no sentido do desapego dos pesos e entraves que nos prendem a nós mesmos.

O período quaresmal serve para nos fazer mais filhos e mais irmãos. Ensina-nos este tempo santo de que somente se conseguirmos nos libertar de nós mesmos e das consequências do egoísmo e do pecado que pretendem acorrentar-nos a nós mesmos e, em ultima análise, ao inimigo de Deus, é que poderemos de verdade “voar” ao encontro de Deus e de nossos irmãos. Não existe outro remédio. Ou nos desfazemos de nós, de pretendermos ser o centro do universo, ou jamais conseguiremos encontrar a bondade e a misericórdia de Deus e ir ao encontro das necessidades de nossos irmãos.

Assim, amados irmãos, este tempo santo precisa assumir em nossa vida a importância que lhe é devido. Tempo de rezar mais, de organizar melhor a nossa vida de oração. Tempo de retornarmos às fontes da Graça de Deus, especialmente abundantes na Sagrada Eucaristia e no Sacramento da Reconciliação e da Paz. Tempo de retomarmos nossos compromissos de vida, fazendo deles um caminho de autêntica santidade, no cumprimento dos pequenos e dos grandes deveres de cada dia. Tempo de voltarmos para uma mais intensa vida familiar. Tempo para fazermos nosso corpo sentir, de forma educativa, um pouco do desgosto que Nosso Senhor sentiu na cruz. Tempo da caridade, de irmos ao encontro dos irmãos mais sofridos, mais necessitados de carinho, de ajuda, de atenção. Tempo santo para nos ajudar a sermos santos.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen