Dia das mães e pandemia, redescobrir a beleza da oração do terço

No dia 25 passado, festa do evangelista S. Marcos, observando as normas do isolamento social, Francisco celebrou missa na basílica S. João do Latrão, a catedral de Roma, portanto, a do Papa. Na ocasião, divulgou breve carta a todos os fiéis para este mês de maio, no qual o povo de Deus manifesta de modo particular o seu amor e devoção à Virgem Maria, especialmente em família e pela tradição da recitação do terço. Observa que as restrições da pandemia favorecem a dimensão familiar dessa tradição. Por isso, propõe que se volte a descobrir a beleza de se rezar o terço em casa neste mês mariano.

Para nós, no Brasil, oportuno observar, neste dia das mães, a quem saudamos carinhosamente, que se deve a elas, em grande parte, a iniciação à vida cristã, com o incentivo à oração, incluindo a recitação do terço.

É oração com 4 séries de mistérios – palavras, atos e fatos de Jesus e de Maria, gozosos (da alegria), dolorosos (da dor), gloriosos (da vitória) e luminosos (da luz). E tem um instrumento, um “cordel” com “grãos”, “contas” para se ir passando as invocações e os fatos da própria vida à luz dos fatos de Cristo e de sua Mãe, intercalando o Pai nosso, dez Ave-Marias e o glória ao Pai.

Sua origem pode ser situada na prática da recitação dos salmos. Pelo ano 300, muitos religiosos não conseguiam acompanhar sua recitação, praticamente de 3 em 3 horas, por causa dos trabalhos e porque muitos não sabiam ler. O superior estabelecia que rezassem determinado número de Pai-Nosso. Para contar, usavam um barbante com nós. Para louvar Maria, começou-se a repetir a saudação do anjo a ela, até se chegar à Ave-Maria de hoje. Daí, uma Ave-Maria em lugar de cada salmo e passagens do Evangelho até se chegar aos mistérios atuais. As três séries tradicionais foram fixadas por São Pio V (1566-1572) e a outra, por São João Paulo II, em 16 de outubro de 2002. Como cada Ave-Maria era considerada um “rosa” de homenagem a Maria, a oração passou a ser chamada de Rosário.

O terço é oração cristológica: tem Cristo no centro. É resumo do Evangelho. Coloca-nos na Escola de Maria para contemplar seu Filho. Ajuda-nos a fazer como Ela: guardar no coração tudo o que se passava com seu Filho e tudo o que Ele dizia e fazia. Ajuda a cada um ser o que a Igreja toda deve ser: ouvinte do Mestre e praticante de tudo o que Ele ensina.

Fazendo-nos percorrer os mistérios de Cristo, ajuda a entender a verdade profunda do ser humano, o valor sagrado da vida, o lugar da família no plano de Deus, a luz do Reino de Deus, o significado redentor do sofrimento, a solidariedade com os sofredores, a meta de todos os que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus – a felicidade eterna.

Ele forma um círculo. Sua saída coincide com a chegada. Lembra o que Jesus falou: saí do Pai e volto ao Pai (Jo 16, 28). Nós também viemos do Pai e devemos voltar a Ele. A forma de fazê-lo é seguir Cristo, que se declarou nosso caminho (Jo 14, 8) e convida a cada um a segui-lo (Mt 19,21).

É oração pela paz e pela família. Ao relançá-la, S. João Paulo II indicou duas intenções especiais: a paz e a família.

Sempre foi oração querida das famílias e muito favoreceu sua união e seu crescimento. “A família, que reza unida o Rosário, reproduz em certa medida o clima da casa de Nazaré: põe-se Jesus no centro, partilham-se com Ele alegrias e sofrimentos, colocam-se nas suas mãos necessidades e projetos, e d’Ele se recebe a esperança e a força para o caminho” (RMV, 41). Por ele, pais e filhos vivem etapas de crescimento de Jesus, desde a encarnação até a ressurreição como seu ideal de vida.

Pe. Antonio Valentini Neto – Administrador Diocesano de Erexim