Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?
Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A visão de Cristo na Cruz é um apelo à contemplação, para que possamos nos inserir na Semana Santa, a semana da nossa salvação. Por isso, tomo a liberdade de convidá-los para participarem com o Senhor Jesus, deste tempo de dor e glória, em que lembramos a instituição do sacerdócio e da Eucaristia, mas também a paixão e morte do Senhor na cruz. De seu lado transpassado pela lança nasce a Igreja, povo de Deus, cuja missão é anunciar o Reino e cantar a vitória do ressuscitado, vivo e presente no meio de nós.
Na Semana Santa, a liturgia e as celebrações são marcadas por gestos que manifestam a grandeza do amor de Deus pela humanidade ferida, oprimida e subjugada pelo pecado. O amor de Deus revela a sua misericórdia pelo homem fragilizado na sua condição filial, e se manifesta de forma concreta pela presença entre nós do seu filho Jesus. Ele anunciou o Reino de Deus com palavras e gestos, que tocaram os corações de homens e mulheres, que clamavam por justiça, por misericórdia, por fraternidade e paz, que lhes dessem o direito de viver com dignidade a sua vida, dom de Deus.
Jesus foi fiel à missão que o Pai lhe confiou. Mesmo sendo criticado, incompreendido e não aceito por muitos, ele deu testemunho de amor ao Pai e a cada um de nós. Nem os açoites, nem a coroa de espinhos, nem a condenação à morte na cruz, o fizeram abandonar a missão que o Pai lhe havia confiado. No silêncio, toma nos ombros a cruz e começa a percorrer um caminho que o conduz à morte. No peso da cruz está a humanidade, com toda a sua dignidade e fragilidade. Nos passos de Jesus carregando a cruz para o Calvário estão os nossos passos, passos de vida e de morte, que revelam o amor, a dor, as angústias, o desânimo e o sofrimento de cada ser humano que peregrina sobre a face da terra. Nas quedas de Jesus, oprimido pelo peso da cruz, contribuímos também nós, quando cedemos às muitas formas de corrupção, à cultura da indiferença, à falta de compaixão, que tiram o pão da boca do pobre, não respeitam a dignidade da pessoa no mundo do trabalho e a esperança do coração dos jovens, em relação ao futuro.
Mas Jesus não fica prostrado sob o lenho da cruz, levanta-se e continua caminhando para o Calvário. Mesmo diante da dor, provocada pela violência a que é submetido, ele continua a sentir compaixão, a consolar os aflitos que encontra ao longo do caminho. Ele, que caminha para a morte, fala através de palavras e gestos ao coração da humanidade, do seu amor pela vida, da sua esperança no ser humano, que através da misericórdia do Pai pode tornar-se uma nova criatura, redimida pelo seu sangue na cruz.
Irmãos e irmãs, caminhemos com Jesus, com o coração cheio de esperança, para podermos cantar juntos o Aleluia da ressurreição, celebrando a vitória da vida sobre a morte.
Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul