Misericórdia e Solidariedade
Durante a Quaresma cantamos muitas vezes: “Perdão, Senhor! Misericórdia!”
Com a Páscoa a misericórdia virou festa, alegria e esperança! Na quarentena em que vive o Brasil, é preciso lançar a luz da Páscoa de Cristo ressuscitado sobre as realidades pessoais e da sociedade, elevadas a situações planetárias. As soluções sobre a pandemia são buscadas nos cuidados imediatos, nos medicamentos, vacinas, respiradores e adequação dos hospitais. Tudo convida para a solidariedade pessoal e social.
Em nossos dias, mais do que nunca, pedimos perdão e misericórdia ao Senhor para o nosso mundo que acorda de um longo sono, feito de individualismo, interesses do ganho e do lucro, busca insaciável do prazer e do poder. Aos cristãos cabe, à luz da Páscoa, testemunhar o plano de Deus, com o qual tudo concorre para o bem dos que o amam (cf. A. Taveira, 16/04/2020).
Deus, o Pai das Misericórdias, quer consolar e ajudar, em Jesus Cristo, todas as pessoas através da misericórdia e da solidariedade. Por isso, cada pessoa deverá encontrar a sua forma de exercer a misericórdia e manifestar a solidariedade. Os médicos e profissionais da saúde, com tantos exemplos recentes de verdadeira imolação, desdobram-se em misericórdia junto aos doentes e afetados. Os cientistas têm nos laboratórios de pesquisas seu campo de misericórdia. Misericórdia será a acolhida e atendimento aos grupos mais carentes da sociedade, bem como as populações de rua. As muitas campanhas por cestas básicas também são belos gestos de misericórdia aos que passam fome. É sinal de misericórdia obedeceras normas estabelecidas pelas autoridades no uso das máscaras e lavar com freqüência as mãos. Misericórdia é também superar os gastos supérfluos e vencer o orgulho de uma pretensa onipotência.
Frei Raniero Cantalamessa, na homilia da Sexta-feira Santa, dizia: “A pandemia nos despertou bruscamente do perigo maior que sempre correram os indivíduos e a humanidade, o delírio de onipotência. Bastou o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus, para nos recordar que somos mortais, que o poderio militar e a tecnologia não bastam para salvar. ‘Não dura muito o homem rico e poderoso – diz o salmo da Bíblia – é semelhante ao gado gordo que se abate’(Sl 49,21). E é verdade!”
Misericórdia é também o zelo de nossos sacerdotes nas celebrações transmitidas pelos meios de comunicação e nos atendimentos paroquiais. Todos estes são sinais de misericórdia e de que Jesus está presente no meio de seu povo e não nos abandona!
Dom Hélio Adelar Rubert – Arcebispo de Santa Maria