Não ouvir, um erro estratégico
A função da liderança é determinante em qualquer contexto, seja na esfera eclesial, civil ou empresarial. A existência de alguns vícios pode inviabilizar a plenitude da liderança, tornando-a estéril, amarga e injusta. Esses vícios têm o potencial de afetar negativamente a comunidade e a missão da instituição que a liderança representa.
Um dos erros estratégicos graves da liderança é a autorreferencialidade, quando o líder se coloca a si mesmo como referência e medida de todas as coisas. Em seu poço de vaidade, ele se julga detentor de cem por cento da verdade e não leva em consideração o pensamento dos demais. Esse comportamento narcisista e individualista nega a contribuição dos outros e pode levar à desvalorização das capacidades e opiniões dos liderados. O populismo, a falta de visão estratégica, o extremismo e o medo são apontados como outros males que atrofiam a liderança.
É importante observar que esses comportamentos prejudiciais não se limitam apenas ao contexto eclesial, mas também têm impacto na esfera pública. É pecado mortal quando ocorrem dentro de uma família, na educação dos filhos. A reflexão sobre esses males na liderança é crucial, não apenas para a correção de comportamentos individuais, mas também para a promoção de uma liderança mais efetiva e ética em todos os âmbitos da sociedade. Esses comportamentos prejudicam a comunidade e a missão da Igreja, levando à antipatia, injustiça e descontentamento. Líderes que persistem em tais atitudes negativas, apesar das evidências dos prejuízos, levantam questões sobre a natureza humana e a dinâmica do poder.
É fundamental que líderes e aspirantes a liderança se engajem em uma reflexão pessoal e coletiva sobre esses pecados capitais da liderança. A consciência e a identificação desses comportamentos negativos podem contribuir para a promoção de uma liderança mais autêntica, responsável e orientada para o bem comum. A superação desses vícios exige coragem, humildade e um compromisso genuíno com a missão e os valores que a liderança representa.
A conscientização e a transformação desses padrões de liderança podem contribuir significativamente para a promoção de comunidades mais saudáveis, justas e eficazes em todos os contextos. Convidamos líderes e liderados a uma profunda reflexão sobre a natureza e o impacto desses comportamentos negativos.
Este artigo serve como um lembrete oportuno da importância de uma liderança ética, responsável e orientada para o bem comum, e destaca a necessidade de um constante exame de consciência por parte daqueles que exercem cargos de liderança em qualquer âmbito da sociedade.
Na proposta de caminho sinodal, o Papa Francisco tem insistido na importância de saber ouvir as pessoas. Uma liderança comete muitos erros quando não consegue ouvir os liderados. A boa liderança precisa entender de gente e saber colocar-se no lugar do outro, tentando perceber a realidade como o outro percebe.
Uma pergunta que pode ser feita é: por que alguns líderes persistem em atitudes negativas, apesar das evidências dos prejuízos que inviabilizam a efetividade e eficácia da liderança, provocando consequências graves?
Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana