Não plantar trigo, mas educar!

Um antigo provérbio chinês diz o seguinte: os que estão preocupados com o próximo ano semeiam trigo; já os que estão preocupados com os próximos 100 anos se empenham em educar as pessoas.

Para quem vive tempos apressados, sob a tirania do momento, num mundo onde se privilegia o individualismo, o citado provérbio pode parecer um absurdo ou nada mais que um bom conselho. Contudo, como diz Daniel Pennac “o tempo para ler, como o tempo para amar”, e acrescentamos, o tempo para dialogar, “dilata o tempo para viver”.

Ler, amar, dialogar são exigências do processo de busca da verdade. Tais atitudes contribuem para o desenvolvimento humano. Elas patrocinam o convívio harmônico, a fraternidade humana. Dispor-se a ouvir, observar, silenciar e elaborar o que é oferecido ao longo deste processo, implica coragem para se deixar interpelar, disposição para deixar-se questionar em seus pressupostos e abertura de mente e coração para acolher o que verdadeiramente é importante e que promove vida em plenitude. Não se trata certamente de acumular informações, mas de uma disposição performativa.

O processo de busca da verdade pressupõe autenticidade. Ela é algo que envolve mente, disposição física, capacidade dialógica e também coração, ou se quisermos, sensibilidade humana. É esta tríade que promove a construção de confiança e condições para possíveis e talvez necessárias revisões e mudanças no modo de pensar e agir.

“É hora de saber como projetar, numa cultura que privilegie o diálogo como forma de encontro, a busca de consenso e de acordos, mas sem a separar da preocupação por uma sociedade justa, capaz de memória e sem exclusões. O autor principal, o sujeito histórico deste processo, é a gente e a sua cultura, não uma classe, uma fracção, um grupo, uma elite. Não precisamos de um projeto de poucos para poucos, ou de uma minoria esclarecida ou testemunhal que se aproprie de um sentimento coletivo. Trata-se de um acordo para viver juntos, de um pacto social e cultural” (Papa Francisco).

Portanto, quando durante o tempo quaresmal somos convidados a refletir sobre o tema “Fraternidade e diálogo”, estamos sendo exortados a superar ideologias e preconceitos, e nos dispor a trabalhar com homens e mulheres de boa vontade na construção de uma sociedade caracterizada por autêntica fraternidade e paz.

Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da CNBB