Nascimento de um Deus que é de Paz

Motivados pelos meios de comunicação e pelo mundo comercial, já estamos envolvidos por frequentes anúncios do Natal, sobretudo dentro do espírito da sociedade de consumo. Como cristãos, desejamos viver a proximidade do Natal, preparando-nos devidamente para acolher Aquele que vem ser Deus conosco. Para que isso possa acontecer, teremos que iluminar-nos com a Palavra de Deus, a fim de não construirmos ídolos individualistas, a nosso gosto, e anunciá-los com títulos divinos. Na proximidade do fim de ano, vamos dedicar nossas mensagens ao nascimento de Jesus Cristo, que dividiu a história da humanidade em antes e em depois desse acontecimento. Vejamos, neste primeiro momento, como o Deus do Natal é anunciado e se manifesta em Jesus Cristo. Na liturgia da noite de nascimento do Menino-Deus, o profeta Isaías (Is 9, 2-7) o apresenta como luz e alegria, como o “Príncipe da Paz”, uma paz que “não terá fim”. Portanto, a paz será a identidade do Pequenino que vai nascer. Na mesma noite do Natal, a liturgia nos revela que os anjos, ao anunciar aos pastores o nascimento de Jesus, assim cantam: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados” (Lc 2, 14). É o mesmo Jesus que mais tarde vai proclamar: “Bem-aventurados os que promovem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5, 9); e que vai admoestar o discípulo Pedro contra a violência: “Põe a espada na bainha. Não beberei, porventura, o cálice que o Pai me deu? (Jo 18, 11).

Entre os humanos também encontramos pessoas que têm muito de divino, ou seja, que são capazes de orientar-se pelo princípio da paz ativa, da justiça, da solidariedade, e não dos interesses egoístas. São pessoas que têm lugar e tempo para o próximo, que olham para os outros porque reconhecem neles irmãos e irmãs, tão dignos/as como eles próprios. São pessoas que não se deixam guiar simplesmente por referências estéticas, pela classe social, pela riqueza ou poder, mas pelos valores da dignidade, do respeito, da vida à imagem e semelhança de Deus, neles presentes.

Atualmente vivemos um tempo de muitas polarizações, sobretudo pelas redes sociais, com fortes tendências a posições extremas que descambam, com frequência, para o ódio e a violência. Por vezes, até o nome de Deus é usado para tais atitudes, nada cristãs. Percebemos que estas manifestações não são coerentes com o modo de ser e anunciar de Jesus Cristo, que se fez um de nós para que possamos unir-nos a Ele. O verdadeiro Natal somente é possível em corações que alimentam o amor e a paz. Os corações violentos e alimentados pelo ódio, continuam a mandar Jesus, ainda hoje, para as grutas frias da Belém mais próxima.

A verdadeira paz não consiste apenas em resolver conflitos ou em realizar acordos com diplomacia e, muito menos, com o espírito dos antigos romanos, que diziam: “Si vis pacem para bellum” (= Se queres a paz prepara a guerra), como ainda muitos líderes mundiais pensam hoje e causam tantas guerras em nosso planeta. Construir a verdadeira Paz é tornar presente o modo de ser do próprio Deus, pois Ele é a Paz. É por isso que S. Agostinho (séc. V) afirma: “Nosso coração só estará em paz quando descansar em Deus”. Construir a paz, ser mensageiro da paz, faz parte do esforço humano, mas depende, sobretudo, da presença e ação divina, acolhida em nós. Somente com Deus é possível a verdadeira paz: “Se queres a paz prepara a Paz” (cf. São Paulo VI).

Com São Francisco de Assis, digamos: “Senhor, fazei de mim instrumento de vossa paz”. E com o Papa Francisco nos sintamos convidados a construir pontes e derrubar os muros de separação. Então poderemos viver o verdadeiro Natal e cumprimentar-nos com votos de Paz e Bem, acolhendo o Príncipe da Paz. Feliz Natal!

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul