Nascimento de um Deus que se fez pequeno

É tempo de Advento e o Natal se aproxima. Também já estamos cercados de publicidade natalina, prometendo-nos felicidade através dos presentes que são oferecidos. Certamente, tudo isso pode fazer parte dos festejos do Natal e do fim de ano, mas deve ser uma consequência da vinda do Salvador da humanidade entre nós, cujo nascimento estamos para celebrar. Neste tempo em que usamos tantos superlativos, escritos ou falados, vamos celebrar um Deus que se faz Emanuel – Deus conosco, que se faz pequeno, criança dependente, nascendo numa gruta, com Maria e José, em meio a animais e é visitado por pobres pastores. Como diz o Papa Francisco: “Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura” (EG 286). Neste meio, José aparece como o homem justo e obediente à vontade de Deus, que protege e cuida o Menino e sua Mãe. Este nascimento tão simples choca a esperança messiânica, reinante em Israel, como escandaliza também hoje. Isso nos faz refletir sobre a imagem de Deus que alimentamos em nossa vida, em nossas expressões e atitudes religiosas.

São Francisco de Assis, o criador do presépio, em Greccio – Itália, no Natal de 1223 (há 800 anos), nos ajuda nesta reflexão. Há oito séculos, o santo de Assis não cansava de meditar a Sagrada Escritura e nela encontrou um Deus que quis tornar-se pequeno: “A Palavra se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14) e tudo isso aconteceu na simplicidade da gruta de Belém (cf. Lc 2,1-20). Sendo Deus, assumiu nossa condição humana, na pessoa de Jesus Cristo: “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, … para recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4,4-5).

São Francisco de Assis, ao encontrar-se com essa Palavra de Deus, sentia-se fascinado especialmente por três mistérios ou acontecimentos, nos quais Deus se fez pequeno, menor, para estar muito próximo da pessoa humana. Ele se fez criança, ao nascer de Maria, em Belém; fez-se pobre e pequeno na cruz, ao encarnar-se na dor, no sofrimento e na morte humana; fez-se e continua a fazer-se menor até hoje, na presença humilde da Eucaristia: “Diariamente ele se humilha, como quando veio do trono real ao útero da Virgem; diariamente ele vem a nós em aparência humilde; diariamente ele desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote” (Adm 1,16-18). Na visão franciscana, portanto, a pequenez de Deus transparece, sobretudo, nos mistérios do nascimento, da cruz e da eucaristia. Por isso, estes três símbolos estão colocados, em nosso escudo episcopal, ao redor do livro da Palavra de Deus, a fim de que esta espiritualidade alimente nosso ministério episcopal dentro da realidade da vida do povo de Deus, que nos foi confiado na diocese.

Como percebemos, Deus continua a encarnar-se, tornando-se pequeno, menor, para ser acessível à realidade humana, a fim de salvá-la e uni-la ao divino. O Senhor deseja encarnar-se, tornar-se presente, de modo especial pela sua Palavra, pelos Mistérios sacramentais e pelo amor fraterno. Jesus quer nascer entre nós para termos a força de suportar nossos medos e dores, colocando-os em nossa cruz de cada dia, que Ele carrega conosco. Ele continua a nascer entre nós na simplicidade da Eucaristia, em que se torna o Pão vivo descido do céu para a vida do mundo.

Todos nós, nossas famílias e comunidades, somos convidados para acolher este mistério da presença de Deus que se fez e continua a fazer-se pequeno. Ele quer habitar em nossa casa, em nossa vida, para ser o Deus-conosco, sobretudo neste tempo do seu Natal. É tempo de preparar-se e acolher o Menino-Deus!

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul