Natal essencial!
É cada vez mais difícil identificar a essência do Natal, ofuscado em meio à agitação de comprar presentes, escolher enfeites, organizar festas e confraternizações, programar férias ou encontros de amigos e familiares…Para muitos se tornou apenas uma festa comercial, momento para se divertir e trocar presentes. Para nós cristãos, porém, o Natal é muito mais! E Francisco nos ajuda a recuperar o seu significado original: Francisco, o Papa, assim como Francisco o Santo. Os dois Franciscos dedicam particular atenção à solenidade do Natal.
Francisco, o Santo, nos deixou em herança o Presépio. Para celebrar melhor o evento central da história da Salvação, o pobre de Assis propôs reconstruir a cena da Encarnação. Era o ano 1223, na pequena cidade de Greccio, na Itália. A partir daquele momento não houve uma festa sequer de Natal sem a representação do Presépio, que encanta e nos transporta à longínqua Belém para acolher o Menino Deus ao lado de José e Maria.
Francisco, o Papa, presenteou-nos com duas cartas apostólicas que introduzem ao mistério do Presépio e do Natal. A primeira é intitulada “Sinal admirável” (1 dezembro 2019), exatamente sobre o significado e valor do presépio. “O Presépio é como um Evangelho vivo, (…) ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a nos colocar espiritualmente a caminho”, diz o Papa. A segunda carta, publicada há um ano (8 dezembro 2020), fala de São José, um dos protagonistas do Natal, cujo ano jubilar se encerra exatamente neste 8 de dezembro. Intitulada “Coração de pai”, apresenta o “pai de Jesus” como modelo de ternura, obediência, acolhimento, coragem, trabalho e amor.
São Francisco nos ajuda a penetrar no mistério do Natal chamando a nossa atenção para o contexto no qual nasceu Jesus: um estábulo e uma manjedoura que nos recordam a fragilidade, a humildade, a humanidade do Filho de Deus. Remete à pobreza, virtude que nos faz focar no que é essencial.Francisco, o Papa, nos ajuda a aprofundar o sentido do Presépio propondo olhar integralmente a cena de Belém,colocando nossos olhos também sobre os personagens “coadjuvantes”: São José, e com ele a Virgem Maria, os pastores e os magos. Como já nos habituou ao longo do seu magistério, o Papa Francisco chama a atenção para as pessoas, as relações, a cultura do encontro: encontro de Deus com a humanidade, das famílias, dos pobres e assim por diante.
Todos estes personagens e contexto conduzem-nos ao “essencial” do Natal: Jesus, o Verbo que se encarna, pequeno, simples, humilde, na periferia de Israel, em meio aos pobres e excluídos. Os personagens e contexto ajudam a conjugar o Verbo, a dar voz à Palavra. Essa é a função de João Batista, outro personagem muito presente durante o Advento, o caminho de preparação para o Natal. E essa é a função da Igreja hoje, de cada um de nós. Neste tempo de espera e alegria, cada cristão deve se tornar no mundo a voz do único Logos que é Cristo. Sem a Palavra, a voz não é nada, se torna simples balbuciar, sem sentido. Sem Jesus, não somos nada, apenas ruído. Somente com Cristo nossa vida adquire sentido, é compreensível e coerente. Provavelmente foi pensando nisso que o apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios: “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança”(1Cor 13,11)… balbuciava apenas. “Quando me tornei adulto, abandonei as coisas de criança”… quando encontrei Jesus, descobri o sentido da vida e a minha voz começou a pronunciar as suas palavras. Sem Jesus, fazemos apenas barulho; com Jesus, declamamos poesia.
O bem-aventurado Tiago Alberione, fundador da Família Paulina, ao enviar os seus religiosos para darem início a novas comunidades, costumava dizer: “comecem sempre do presépio”. Era uma orientação muito simples, mas compreendida por todos na profundidade do seu significado. Começar uma nova missão ou nova obra de evangelização a partir de Belém não significava apenas que Jesus deveria ser o centro e a luz que orientaria tal iniciativa, mas também que deveria começar pobre, simples, humilde. Deveria começar com aquilo que tinham à disposição – mesmo que fosse uma simples manjedoura num estábulo –, mas sempre com a alegria e a exaltação que marcaram o nascimento do menino Jesus.
O contexto de pandemia em que vivemos mais um Natal pode ser excelente oportunidade para ressaltarmos o seu verdadeiro espírito, que é simplesmente acolher o Menino Jesus, Filho de Deus, de coração aberto, sem luxo, sem grandes ceias, sem presentes caros. Pode se tornar um momento propício para a conversão, para voltar atrás, mudar de rota, procurar algo que perdemosou deixamos pelo caminho, enfim, oportunidade para buscar o essencial!
O contexto de pandemia pode se tornar ocasião para darmos voz à Palavra e para redescobrirmos a essência do Natal. Desse modo a festa que nos últimos tempos se tornou “comercial” pode voltar a ser a festa da “fé” e do “amor”: fé em Deus e fé na humanidade, que é tocada pela perfeição divina; amor a Deus e amor ao próximo, porque Deus encarnou, assumindo a condição humana no seio de uma família.
Um bom Advento e um Feliz Natal a todos!
Fr. Darlei Zanon, religioso paulino