Nossa redenção veio por meio da obediência de Jesus
A 1a Leitura deste Domingo de Ramos (Isaías 50,4-7), apresenta um texto composto seis séculos antes da vinda de Cristo. Este texto prenuncia, com impressionante precisão, a Paixão de Jesus.
Deus concede poder ao seu Servo para servir de consolador aos que sofrem. “O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo”.
Este “Servo do Senhor” está sempre sintonizado com as mensagens divinas e comprometido em cumprir obedientemente os desejos de Deus. Mesmo que isso implique angústia ou aflição, o Servo não se intimida. Seus ouvidos são aguçados todas as manhãs para absorver os ensinamentos do Senhor, assim como acontece com os discípulos fiéis do passado e do presente.
Esta lição que nos é dada na 1a Leitura é inestimável, pois nos mostra como suportar o peso de nossas próprias cruzes. Ao trilhar ele mesmo o caminho com um fardo de entrega e de sofrimento muito pesado, Jesus nos inspira e nos fortalece para continuar. Ele abraça a cruz sem reservas ou hesitações, declarando: “… não lhe resisti nem voltei atrás“. Com bravura inabalável, ele se manteve firme: “Ofereci as costas para me baterem, o rosto para arrancarem minha barba”.
A desobediência à vontade de Deus foi o primeiro pecado e a origem dos demais pecados. Todos os outros pecados cometidos no mundo carregam igual peso em sua malícia e em sua injustiça contra um Deus que só nos ama. A atitude benevolente e submissa de Cristo Jesus nos concede a redenção das algemas do pecado, libertando-nos de nossa escravidão e levando-nos ao encontro da vontade do Pai.
Durante a Liturgia da Palavra, a Igreja recita hoje o Salmo 21, como Salmo Responsorial. Este Salmo é uma oração que espelha as emoções de um indivíduo desamparado e melancólico. É a mesma oração que Jesus Cristo fez na Sexta-Feira Santa, enquanto estava pendurado na cruz. Inegavelmente, esta oração transmite uma sensação de agonia e sofrimento, ao mesmo tempo em que mostra nossa fé ilimitada no Senhor. A súplica manifestada neste Salmo é a de uma criança que busca consolo em seu pai, com a esperança de encontrar este consolo. Nos momentos em que o peso da cruz parece insuportável, quando as pessoas mais próximas falham em nos oferecer atenção, esta oração torna-se especialmente significativa. Tantas vezes também nós podemos ter este sentimento de abandono, da parte de Deus. Por isso clamamos: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”
Na 2ª Leitura de hoje (Filipenses 2,6-11), São Paulo partilha conosco um antigo hino litúrgico da Igreja. O hino ilustra o Filho de Deus de maneira humilde e servil.
O relato da Paixão de Jesus, no Evangelho segundo São Mateus, nos ensina que a obediência superou a desobediência, por meio de Jesus. Num notável ato de fé, Jesus entregou-se obedientemente conforme a vontade do Pai. Jesus, ao cumprir as Escrituras, faz com que sua Paixão se manifeste como a demonstração máxima de obediência à vontade de Deus. E por sua obediência somos salvos.
Em meio à angústia de Jesus no Calvário, a dor silenciosa de Maria ecoa através dos tempos. Esta semana marca o início da “Semana Maior”, momento em que a entrega final de Jesus é comemorada com devoção solene, até a memória feliz de sua ressurreição.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen