Nossa Senhora dos Navegantes

No mês de fevereiro, a Igreja celebra festas marianas, muito queridas para nosso povo. Algumas celebrações acontecem em nossas belas grutas, em honra de Nossa Senhora de Lourdes; outras, à beira dos rios, com a devoção de Nossa Senhora dos Navegantes. Hoje refletiremos sobre a origem e sentido desta última.

Precisamos olhar para a Palavra de Deus, indicada para este dia, a fim de entendermos a relação do fenômeno de religiosidade popular desta festa mariana com a celebração litúrgica oficial da Apresentação do Senhor, em 02 de fevereiro, desde longa data. O Evangelho narra como foi a apresentação do Menino Jesus no templo de Jerusalém e a purificação da Mãe, 40 dias depois do nascimento, segundo a lei judaica (Lc 2, 22-40). Quando Maria e José consagraram seu Filho primogênito a Deus, entrou em cena um “homem justo e piedoso”, chamado Simeão, o qual recebera a revelação do Espírito de ver o Messias, antes de morrer. O ancião tomou o menino em seus braços e disse: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel” (Lc 2, 29-32). Como em outros textos bíblicos, Jesus é anunciado como portador da salvação, como “Luz das Nações”.

A festa da apresentação, já celebrada no IV século, torna-se a primeira procissão romana conhecida. No séc. VIII aparece o título litúrgico: “Purificação de Santa Maria”, iniciando a conotação mariana da festa. E no séc. X encontra-se também, pela primeira vez nos livros litúrgicos, a bênção das velas. Portanto, tudo fala de Luz.

Mas donde surgiria o título de “Nossa Senhora dos Navegantes”? Para responder é preciso ir à alta Idade Média, quando a Virgem Maria era invocada como: “Stella Maris” (Estrela do Mar). Os Cruzados invocavam Maria, como Nossa Senhora da Esperança, considerando-a como luz (estrela), como guia dos navegadores na direção do porto seguro (Terra Santa). Na época dos descobrimentos (séc. XV-XVI), portugueses e espanhóis confiavam suas viagens pelos mares e rios a Maria Santíssima, que veio tornar-se “Nossa Senhora dos Navegantes”, hoje também considerada dos viajantes, que navegam “no mar da vida” ou “pelas estradas da vida”, enfim, da Igreja peregrina neste mundo. Se Jesus é “Luz das Nações”, e Maria é a “Estrela do Mar”, não é difícil entender porque surgiu, neste dia, a bênção das velas e a procissão luminosa.

Foram os imigrantes açorianos, exímios navegadores, que mais difundiram essa devoção mariana no RS. Assim compreendemos porque Nossa Senhora dos Navegantes é celebrada, sobretudo, em regiões de rios. Multidões se colocam ao redor da imagem de Maria, normalmente com velas acesas. O auge celebrativo acontece com a missa, que conclui a procissão festiva, seja fluvial ou terrestre.

A história anterior nos faz entender a celebração de 02 de fevereiro, integrando a liturgia oficial e a piedade popular. Ao levarmos velas abençoadas e acesas, em procissão, ao conduzirmos a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes pelos rios ou ruas e terminamos celebrando a eucaristia, nós queremos dizer que navegamos ou caminhamos com Maria ao encontro d’Aquele que é a “Luz das Nações”, d’Aquele que disse: “Eu sou a Luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12). Com Jesus e Maria Santíssima, também nós seremos luzes missionárias; estaremos iluminando a vida, onde estivermos. Disse Jesus: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 14). Nossa Senhora dos Navegantes, Estrela do Mar, conduze-nos sempre ao encontro de teu Filho, Luz das Nações, para sermos luz missionária no mundo!

Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul