Nossas escolhas e decisões

 

Estamos iniciando um novo ano. Para que não haja mais tarde arrependimentos, é necessário que no princípio nossas escolhas e decisões sejam bem feitas. Recordo aqui aquela grande verdade: “O homem não é produto das circunstâncias; o homem é produto das suas decisões” (Victor Frankl).

Há um tempo li um artigo sobre uma enfermeira australiana, Bronnie Ware, que escreveu um livro muito interessante. Tendo se dedicado a doentes terminais, colecionou suas queixas, seus arrependimentos e seus sonhos não realizados. Tinha consciência de que aquilo que foi ouvindo de uns e de outros ao longo de alguns anos era muito mais do que meros desabafos, mas ela estava, sim, diante de sentimentos profundos, de dores que machucavam, de vidas não vividas. Para que o livro não se tornasse apenas um amontoado de depoimentos, organizou-os em grandes grupos, aos quais denominou “Os cinco maiores arrependimentos à beira da morte”. São eles:

1º) “Eu gostaria de ter tido a coragem de viver a vida que eu quisesse, não a vida que os outros esperavam que eu vivesse”. Segundo Bronnie Ware, esse foi o arrependimento mais comum. Diante da proximidade da morte, muitos olhavam para trás e tomavam consciência do que gostariam de ter feito e não fizeram, preocupados sempre com imposições externas ou com o desejo de querer agradar. Em outras palavras, poderiam escolher para a lápide de sua sepultura a frase: “A vida que poderia ter sido e não foi”.

2º) “Eu gostaria de não ter trabalhado tanto”. Essa afirmação nascia especialmente da boca de homens que tinham passado a vida envolvidos pelo trabalho, pela luta para aumentar seu patrimônio ou para serem sempre mais famosos. Percebiam, de repente, que não haviam acompanhado a infância e a juventude de seus filhos, que a família tinha ficado sempre em segundo plano, embora procurassem se convencer, enquanto estavam em sua roda viva, que era para a esposa e os filhos que tudo faziam.

3º) “Eu queria ter tido a coragem de expressar meus sentimentos”. Alguns se arrependiam por não terem sido capazes de expressar seu amor e seu carinho ou por não terem sido capazes de fazer elogios a quem os merecia. Outros guardavam ressentimentos antigos, fazendo de seu coração um “freezer”, onde sua amargura estava congelada, sempre pronta a se manifestar. Agora, se perguntavam: “Para quê? De que adiantou isso?”

4º) “Eu gostaria de ter tido mais tempo para meus amigos”. Muitos descobriram que não haviam cultivado velhas e sinceras amizades, e que não era naquela fase final da vida que iriam conseguir novos amigos.

5º) “Eu gostaria de ter-me permito ser mais feliz”. O grande erro de muitas pessoas consiste em estragar a vida com mesquinharias, com insatisfações não superadas, com o fechar-se em si mesmas, num egoísmo que mata a alegria.

Estes arrependimentos são, sem dúvida, um material muito rico para nossa reflexão a cerca de como fazemos nossas escolhas. Podemos, ainda, iluminar com o testemunho de Santo Agostinho. Em seu livro autobiográfico, Confissões, ele reconhece e desabafa: “Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova; tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim. (…) Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo”. E nós, temos arrependimentos?

Por fim, mas não na ordem de importância, trago presente as palavras de Jesus Cristo: “De que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a própria vida?” (Mt 16,26). Com palavras muito simples podemos dizer: onde ficaram as vaidades de muitos, os bens que acumularam, muitas vezes de maneira não honesta, os prazeres que dominaram suas vidas? O que fica de uma vida, além do amor semeado? Que as nossas escolhas e decisões de 2024 sirvam para o nosso bem e o bem de todos.

Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé