Novos Cenários Religiosos
Quando o ser humano decide deixar Deus de lado, sem negá-lo, mas sem lhe dar prioridade na vida, ocorre um deslocamento que atrofia a capacidade de ir além da matéria, do visível e do limite. No fundo, perde a fé, porque não confia em ninguém mais a não ser em si mesmo. Perde, assim, o sentido de quem é. O humano é essencialmente um ser que precisa do outro para ser completo. Precisa das pessoas e precisa de Deus para se realizar plenamente. Ao priorizar o saber, o fazer, e o ter, o homem deixa de se ocupar com o ser, o viver e o crer. É urgente priorizar o ser sobre o fazer.
Reconhece-se que a síntese entre cristianismo e cultura ocidental se rompeu, mesmo entre os povos mais tradicionais. Percebemos como Jesus Cristo, para muitos em nosso tempo, já não tem significado organizador para as suas vidas. E a crise da fé preocupa, pois “sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária”. (BENTO XVI. Porta Fidei. n.2)
A realidade alerta para o desafio urgente de passarmos de uma religião de herança social para uma religião de opção pessoal, de uma sociedade unificada pela fé católica para uma sociedade constituída na liberdade democrática e no pluralismo de ideologias, de uma igreja de massa a uma igreja diferenciada e articulada em comunidades de discípulos missionários.
Numa época de fragmentação é urgente um anúncio integral do Evangelho, para todos os seres humanos e cada ser humano. Essa integralidade, perante a fé e da realidade concebida “aos pedaços”, exige uma ação evangelizadora integrada.
É preciso crer de forma integral. Reconhecer a fé envolve todo o ser do crente: sua vontade, seu sentimento e seu pensamento. Não poderá ser mero sentimentalismo e tampouco mera explicação racional. A fé em Cristo não aceita fanatismos e nem fundamentalismos, como alguns tentam impor como enfrentamento do pluralismo, do racionalismo e do relativismo. Ser cristão exige radicalidade no seguimento de Jesus.
O Evangelho não é um projeto, uma doutrina, uma teoria ou ideologia, mas é uma pessoa, o Cristo. Os cristãos não são repetidores de ideias sem vida, mas são testemunhas do Vivente (At 1,8), no qual fizeram a experiência da salvação.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3