O Domingo, Dia do Senhor
O Senhor quis ajudar o homem a compreender o sentido da sua existência na terra. O Livro do Gênesis narra a criação do universo, não de forma histórica ou científica, mas com uma abordagem simples que destaca verdades fundamentais: Deus é o Criador e Senhor de todas as coisas. Nesta jornada terrestre rumo ao Céu, devemos colocar Deus em primeiro lugar e oferecer-lhe todas as nossas ações com amor.
O Gênesis divide a semana em sete dias. Nos seis primeiros, Deus criou o universo e designou o sábado para estarmos com Ele. Quando entregou ao Povo de Deus, no monte Sinai, um conjunto de normas a seguir, incluiu a observância do sábado como um dia consagrado a Ele, como escutamos hoje na 1a Leitura (Deuteronômio 5,12-15).
Jesus Cristo, ao fundar a Sua Igreja — o novo Povo de Deus com quem fez uma Nova Aliança no Calvário —, determinou que o dia consagrado a Deus fosse o primeiro dia da semana, o Domingo, dando-lhe um novo significado. Ressuscitou ao Domingo e nesse dia manifestou-se às santas mulheres, aos Apóstolos e aos discípulos de Emaús. Como São Tomé não estava presente e não acreditava na Ressurreição, Jesus voltou a aparecer no Domingo seguinte para convencê-lo. Instituiu o Sacramento da Reconciliação, a Confissão Sacramental, nesse dia e quis que a sua Igreja fosse apresentada ao mundo, com a vinda do Espírito Santo, numa manhã de Domingo, o dia de Pentecostes.
O sábado, para nós cristãos, é o fim de uma semana; o Domingo é o início de toda atividade. Neste dia, o homem é liberto do peso do trabalho semanal para se dedicar mais ao Senhor. Domingo significa isso mesmo: Dia do Senhor.
São João Paulo II, no Pentecostes de 1998, publicou uma bela Carta Apostólica intitulada “Dies Domini” (Dia do Senhor), que nos ajuda a aprofundar o significado do nosso Domingo, a partir dos textos sagrados.
Todas as semanas, no primeiro dia, temos um encontro com Jesus Ressuscitado. Ele nos convida a estar presentes e preside à celebração do Domingo. Como no Cenáculo e em Emaús, Ele nos ilumina com a sua Palavra e nos alimenta com a Santíssima Eucaristia.
Durante a semana, podemos sentir-nos sós e sem apoio. Ao nos reunirmos no Domingo, acolhendo a mesma Palavra de Deus e participando do mesmo Corpo e Sangue do Senhor, rezando as mesmas orações e cantando os mesmos cânticos, saímos do templo mais alegres, felizes e fortalecidos para viver a fé durante a semana.
A celebração da Eucaristia torna o Domingo uma imagem da eternidade do Céu, onde todos aclamaremos Cristo Ressuscitado, partilhando da sua felicidade. Saímos, no final da celebração, enviados por Jesus a santificar a nossa semana e a proclamar com a nossa vida que Jesus Cristo ressuscitou e nos ama.
Perder o sentido do Domingo é perder o sentido da vida, mergulhando na desorientação e na angústia. Jesus, como lemos no Evangelho de hoje (Marcos 2,23-3,6), nos ensinou o verdadeiro sentido deste dia: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado.” Jesus instituiu o Domingo para nós. Cessamos toda a atividade laboral para cuidar de aspectos da nossa vida que foram negligenciados.
Assim, atualmente, muitas vezes a família não se reúne durante a semana: os pais vão para o trabalho e os filhos para a escola. Ao Domingo, podem e devem reunir-se para participar juntos da Eucaristia, compartilhar uma refeição e se reconectar.
O Domingo deve ser também o dia em que os outros encontram um lugar na nossa vida. Temos a oportunidade de visitar parentes, especialmente os mais idosos, confortar algum doente ou pobre. Os pobres sempre estiveram no coração da Igreja, sendo chamados “altares de Deus” na Igreja primitiva, com a coleta destinada a socorrê-los.
Hoje, o Estado se organiza com a Segurança Social para prover a saúde ou a sobrevivência. No entanto, estas realidades não podem resolver todos os problemas de quem se sente só, nem oferecer uma palavra amiga, um sorriso ou um ouvido atento.
Da mesma forma, o Senhor nos encontra em cada Domingo na Santa Missa para curar nossas enfermidades espirituais, para nos fortalecer seja para o trabalho, seja para o estudo, seja para a nossa vida de relacionamento com os demais.
Na Santa Missa Dominical, está presente a Santíssima Trindade, Nossa Senhora com toda a corte celeste, as almas do purgatório e todos os membros da Igreja militante que ainda caminham na terra. Sintamos esta bendita fraternidade e peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a compreender e a amar cada vez mais o nosso Domingo.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen