O Doutor que falava de Deus
Dom José Gislon – Bispo Diocesano de Erexim
As festas juninas, celebradas pelas comunidades em tantas realidades deste imenso Brasil, são marcadas pela religiosidade popular, lendas, folclore, dor e esperança que tocam a vida e a alma de um povo que está construindo sua história, sem perder a memória das suas origens, das suas feridas mal curadas, dos anseios de mudanças que parecem estar próximas, mas às vezes, tem-se a impressão que são apenas miragens que se perdem num horizonte infinito e fora do alcance da realidade da nossa existência neste nosso País.
Na piedade do nosso povo, é muito recordado e invocado Santo Antônio, o “Doutor Evangélico”. Identificado na história pelo seu amor a Cristo e à sua Palavra, ele se valeu da pregação como meio para fazer chegar ao coração do povo o que está contido na Sagrada Escritura. Foi um homem que se entregou à causa do Evangelho, amando o povo com profundo amor caridade. Uma caridade marcada pelas palavras do Evangelho, pela dor alheia, pela compaixão, ternura e vigor de quem se sentiu abraçado pelo Cristo crucificado, com amor e misericórdia.
Mas a história real, que olha um pouco além das lendas e folclores, sem desmerecer os valores que elas contêm, nos revela um Santo Antônio preocupado também com a dicotomia que existia entre fé e vida na sociedade do seu tempo. Por isso, procurou, através da Palavra de Deus, formar a vida espiritual, ética e moral do povo, como forma de ter uma sociedade mais fraterna, pacificada e solidária.
Entre a realidade da Idade Média em que viveu Santo Antonio e os dias atuais, muitos séculos se passaram, muitas coisas mudaram, mas ainda persiste em muitos certa dicotomia ou separação entre fé e vida, que fecha os olhos do coração para não ver a dor de um povo e uma sociedade ferida na sua dignidade no presente e na sua esperança em relação ao futuro. Santo Antônio intercedei por nós, para olharmos com esperança para o futuro sem perdermos a memória em relação ao passado.