O Filho do homem veio para dar a sua vida como resgate para muitos

São Marcos nos faz escutar uma frase que pode considerar-se como o “coração” do Evangelho de Jesus: “o filho do homem veio para servir e dar a sua vida como resgate por muitos” (Marcos10, 45). A frase nos faz compreender o sentido pelo qual Jesus se oferece, através de uma morte marcada pela violência, na cruz.

Ele vem realizar uma ação comparada ao resgate substitutivo de uma pessoa, especialmente de um escravo, através da aquisição e do pagamento da dívida, do valor devido pela posse daquela pessoa. Jesus, com sua morte na cruz, paga o preço devido por toda a humanidade, frente a um pecado hediondo (todo pecado é hediondo), em relação ao infinito amor que Deus tem para conosco.

Nesta frase está patente a chamada “doutrina da satisfação”, ou seja, o ensinamento que nos faz compreender o mistério do efeito eficaz da paixão e da morte de Jesus, em relação ao pecado da humanidade. Jesus deu a sua vida por nós na cruz, como pagamento (resgate) por nossos pecados.

A vinda de Nosso Senhor a este mundo foi a resposta que Deus encontrou para nos oferecer o caminho da salvação. Ele, que tanto nos ama, manda seu Filho a esta terra para nos resgatar de nossos pecados, nos reconciliar consigo e nos abrir as portas para a salvação, salvação esta que tínhamos perdido pelo pecado de nossos primeiros pais.

E como Jesus realiza esta reconciliação? Oferecendo a Deus Pai exatamente a ação contrária daquilo que nos levou à perdição. A raiz do pecado humano é a desobediência a Deus. A raiz da salvação que Jesus obteve para nós na cruz é a sua obediência até a morte reparadora.

Ele, aquele que não tem pecado, tomou sobre si os pecados de toda a humanidade e carregou-os até a sua morte na cruz. Desta forma, a dívida da humanidade para com Deus foi saldada de forma eficaz. Ele fez a reparação da dívida devida a Deus por toda a humanidade, a qual éramos incapazes de pagar.

Neste contexto, escutamos a 1a Leitura (Isaías 53,10-11). São alguns versículos do chamado 4o cântico do Servo sofredor, que é um dos textos lidos na 6a feira santa. O breve texto nos apresenta como, por meio de um amor determinado, Deus olhou para a situação de abandono de seu povo, e determina a salvação para o mesmo, através deste seu Servo prometido.

O Salmo Responsorial (Salmo 32) nos leva à confiança depositada em Deus, que envia sobre nós, para a nossa salvação, a Sua Graça. É Jesus quem, na cruz, obtém para nós esta Graça de salvação.

Na 2a Leitura (Hebreus 4,14-16), continuamos a escutar trechos da Carta aos Hebreus. Neste trecho nos é apresentado Jesus como Sumo sacerdote misericordioso e compassivo, que se solidariza conosco. Tudo o que Jesus viveu e sofreu nos leva a uma atitude de confiança: tudo o que lhe dissermos e pedirmos, sabemos que Ele é capaz de compreender, já que em sua vida viveu a nossa realidade humana em tudo, exceto no pecado.

O trecho do Evangelho deste Domingo (Marcos 10,35-45) é um convite a nos unirmos a Jesus também nos momentos de cruz, de sofrimento. Seguir a Jesus deve fazer nascer em nós a disposição de “beber de seu cálice”, ou seja, a decidirmos também a fazer de nossa vida um dom de amor a Deus e aos nossos irmãos.

A Eucaristia que recebemos nos faz viver esta íntima união com o Senhor, que nos leva à entrega amorosa de nossa vida.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen