O Olhar de Guadalupe

No dia 12 de dezembro comemora-se a Virgem de Guadalupe, padroeira da América Latina. No México está o santuário mariano mais visitado do mundo, que reúne, anualmente, milhões de peregrinos; lá está exposta a sagrada imagem impressa na veste de São Juan Diego em 1531. O manto de Juan Diego foi tecido com fibra de maguei, a planta da qual se destila uma aguardente semelhante à tequila. A duração desse tipo de trama vegetal é de 20 anos, e no máximo em 50 anos se deteriora por completo. No entanto, o manto de Juan Diego encontra-se intacto há quase 500 anos. Nele está impressa a imagem da Virgem no tamanho de uma pessoa média. A beleza da pintura e seu realismo fez com que muitos pintores, fotógrafos e cientistas a pesquisassem.  Laboratórios de alta precisão tecnológica analisaram o fio tingido e afirmaram que o pigmento da imagem no manto não é de origem animal, nem vegetal e tampouco mineral.  Concluíram que a tinta não é deste mundo conhecido. Oftalmologistas fizeram exames minuciosos e constataram que nas pupilas da imagem estão impressas 13 pessoas, 6 num olho e mais 7 no outro. Trata-se da cena do índio Juan Diego entregando as rosas ao Bispo, como prova da veracidade do seu relato sobre a Virgem que pedira que se construísse uma igreja no local. Ela disse que queria acolher todos que sofrem, e lá seria um abraço do céu a todos que a ela acorressem.

Os pintores dizem que é impossível pintar uma tela assim, sem uma preparação, pois a perfeição dos traços e a beleza do rosto da Virgem não se consegue reproduzir nesse material, nem mesmo por peritos que já fizeram cópias dos quadros mais importantes do mundo.  Enfim, essa aparição instigou índios, clérigos, cientistas e críticos a prestarem mais atenção aos sinais do céu que marcam a Terra.

A aparição aconteceu no momento em que os astecas viviam uma dramática depressão pela conquista espanhola, seu mundo acabara. Igualmente, a peste da varíola dizimara milhões de indígenas. A novidade dos espanhóis não resultava promissora por conta de suas divisões e avareza. Diante do vazio, a noite escura tomou conta da vida, da cultura e da religião.  Naqueles dias, a Mãe de Jesus aparece a Juan Diego e diz: “Não te perturbes. Acaso não estou eu aqui, que sou tua mãe?” A provação foi intensa, mas pelo amparo e a companhia da Virgem, foi possível confiar e esperar.  E uma nova realidade surgiu para aqueles povos.

No sentido cultural, a Virgem foi a reconciliadora de um mundo dividido entre astecas e espanhóis. Em sua manifestação, a Virgem Maria respeitou profundamente cada civilização, mas não adotou os excessos da cultura asteca, que costumava oferecer sacrifícios humanos ao deus-sol, nem os abusos dos conquistadores espanhóis que matavam para saquear as riquezas dos indígenas. A Virgem não confundiu e nem separou. Ela expressou um amor tão forte que incitou à conversão para a reconciliação, a tal ponto que ainda hoje o povo mexicano  não se compreende sem dizer que é Guadalupano.

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria