O Protagonista do Sínodo

Esta primavera que vive a Igreja, neste momento, fazendo florescer o diálogo, a abertura e o desejo de escuta uns dos outros tem revigorado muito as comunidades eclesiais. Sente-se brilhar uma renovada esperança, no olhar e no empenho de leigos, sacerdotes, religiosos e bispos. Poderia ser o Sínodo uma resposta do Espírito ao apelo de João XXIII para toda a Igreja, incentivando a deixar que soprem novos ventos na barca de Pedro?

Recordo as palavras do meu pároco, quando eu ainda era criança: “O Concílio Vaticano II só será entendido daqui há 50 anos.” De lá para cá, muitas coisas mudaram na Igreja e no mundo. Para melhor e para pior. Transitamos sempre entre trevas e luzes. E, enquanto vivemos, não temos quase tempo de refletir sobre nossas opções e práticas. A realidade tornou-se multifocal, não dispomos mais de apenas um paradigma, mas de muitos. Certamente há coisas boas, que nem sempre estamos aptos a valorar devido às nossas insuficiências.

Mesmo entre fraquezas e fracassos, a Igreja tem consciência da missão que lhe foi confiada: Evangelizar! Embora mudem as circunstâncias e contextos, essa será sempre a tarefa primeira dos discípulos de Jesus. A Igreja não vive para ela mesma, não tem um fim em si. Daí a necessidade de deixar-se conduzir não pelos interesses temporais, mas pelas luzes do Espírito Santo, uma vez que Ele é quem a gera e conduz. O Papa Francisco, sem hesitar, afirmou que O protagonista do Sínodo é o Espírito Santo, pois é Ele quem deve dizer quais caminhos seguir e quais práticas abandonar, a fim de que a barca possa transitar mais levemente pelos mares do mundo.

Na esteira dos grandes mestres espirituais, Francisco fez-me recordar das palavras do Patriarca Atenágoras: “Sem o Espírito Santo:
Deus está longe, o Cristo permanece no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a autoridade é uma dominação, a  missão é propaganda, o culto é uma velharia e o agir cristão uma obra de escravos. Mas, no Espírito Santo: o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o homem está em combate contra a carne, o Cristo ressuscitado torna-se presente, o Evangelho se faz poder e vida, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço que liberta, a missão é um Pentecostes, a liturgia é memorial e antecipação, o agir humano é deificado.

O que era angústia para meu velho pároco, que se tornou também minha durante todos esses anos de sacerdócio, dissipa-se agora iluminado por luzes que acalentam a esperança – minha e de tantos- de ver a Igreja cada vez mais próxima das pessoas, especialmente das que mais precisam, de ajudar para que ela seja sal da terra e de suplicar com ela, que o Espírito a conduza por onde Ele quiser, permitindo que sopre aquele vento novo. É bem verdade que são muitos os desafios, sabemos que não será nada fácil, mas confiamos na Providência Divina e nos pastores que nos guiam. ADSUMUS, SANCTE SPIRITUS!

Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade