O que é ressureição?
O que nos está reservado para depois da morte não é objeto da empiria e da verificabilidade, mas da fé. Desde o homo sapiens até hoje não há uma prova ou opinião unânime sobre o além-túmulo. Entretanto, há milhares de anos o ser humano conserva uma centelha de eternidade levando-o a acreditar que a sua existência não se esgota nesta vida. Há uma miríade de crenças e religiões que se consolidaram na história para dar um sentido à vida, apesar da morte.
Há uma numerosa população do planeta que acredita que voltamos a este mundo depois da morte numa nova vida, isto é, numa reencarnação. Basta mencionar a tradição oriental do Budismo, Xintoísmo e Hinduísmo, como as mais conhecidas. Também no Ocidente está o Kardecismo e algumas tradições afro-brasileiras que acreditam na possibilidade da reencarnação.
No respeito a cada forma de crer e esperar a vida eterna, os cristãos pensam de outra forma. A fé cristã se alicerça totalmente na pessoa de Jesus Cristo, que é Deus e revelou o que realmente é a vida, a morte e a eternidade por meio de sua paixão, morte e ressurreição. Cremos, por revelação de Jesus, que o Pai preparou uma morada eterna no Reino de Deus, e que há um prêmio para os justos e a possibilidade de uma condenação eterna para os maus, de acordo com os critérios do Evangelho, especialmente mencionados no juízo de Mateus 25: tive forme e me deste de comer, estava nu e me vestiste, estava preso e me visitaste…
Tudo o que um cristão espera deriva da páscoa de Jesus, que passou pela cruz e ressuscitou ao terceiro dia. Ressurreição significa ressurgir, viver numa plenitude sem dor, morte ou finitude. Trata-se de uma vida qualitativamente nova, não apenas de uma nova vida.
Já a reencarnação significa voltar a encarnar, materializar-se novamente. A doutrina da reencarnação afirma que o espírito do falecido assumirá um novo corpo para fins de purificação, ou seja, as sucessivas reencarnações de um espírito o fazem alcançar a perfeição no final deste longo processo, trata-se de uma autopurificação em busca de uma iluminação que supere as imperfeições vividas nas reencarnações anteriores. Neste caso, para alguns, Jesus Cristo é admirado como um ser de Luz, mas não a luz salvadora. Para os cristãos essa purificação depende totalmente da ação salvífica de Cristo na cruz.
Os cristãos sempre rejeitaram a possibilidade de evocar os mortos ou mesmo reencarnar. Na História da Igreja sabe dos santos que foram até martirizados por combaterem a gnose e outras crenças que desprezavam o corpo material e negavam a ressurreição. A Igreja, baseada na Escritura Sagrada, ensina que o ser humano só morre uma vez, por isso, afirma que “a morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar a sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir o seu destino último” (Catecismo da Igreja Católica, 1030).
Portanto, cada um deve ser fiel à sua fé, um cristão professará a ressurreição como a principal forma de manifestar ao mundo sua esperança na vida eterna. Um reencarnacionista o fará igualmente como expressão de sua fé. O mais importante é não confundir as duas formas de crer, pois se trata de aspectos distintos para cada forma de crer e esperar. A Igreja ensina que os fiéis devem decidir fundamentalmente pela ressurreição, pois Paulo escreveu: Ora, se se proclama que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã nossa fé (1 Cor 15,12-14).
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3