O Ressuscitado na comunidade
O Crucificado vive, é o Ressuscitado. Este é o anúncio da Páscoa. Não morre mais, não retorna para trás, mas passou para uma vida nova. E “nós vimos o Senhor” (Jo 20,24), disseram os apóstolos. A semana da Páscoa, conhecida como oitava da Páscoa, é o prolongamento do “dia que o Senhor fez para nós” (Sl 118,24), culminando no domingo “in Albis”, com as vestes brancas. Isto porque os cristãos batizados na vigília pascal vestiam novamente a sua roupa branca, simbolizando o irradiar da luz de Cristo com que foram batizados. Agora, são convidados a testemunharem a fé, a alegria e a paz (cf. Jo 20, 19-31). “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2,12). Os batizados são “ressuscitados” com Cristo, para uma vida nova.
Os encontros do Ressuscitado com aqueles que conviveram com Ele suscita novamente neles a fé e aponta a comunidade como o primeiro lugar para que o caminho seja confirmado e continuado. Foi isso que aconteceu ao incrédulo Tomé, que num primeiro momento não se encontrava com os demais. Na comunidade o Ressuscitado se manifesta. Ela é testemunha viva de Cristo. A Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, gera seus filhos na fé pelo anúncio convicto e humilde. Nossa sociedade secularizada e, porque não dizer, muitos cristãos também, precisam de pessoas e ambientes em que o testemunho de sua presença viva e operante seja claro e inequívoco. Não é possível ser cristão sem uma comunidade. A comunidade paroquial não é um lugar unicamente para buscar os sacramentos, mas o espaço que, por estar vinculado a Cristo pelo batismo, o cristão sabe-se vinculado aos irmãos e irmãs. “Que Jesus ocupe o centro de nossas igrejas, grupos e comunidades. Que só Ele seja fonte de vida, de alegria e de paz.” (José Pagola, 2013).
Contudo, estar com o Ressuscitado também comporta um caminho de amadurecimento da fé. O dom precioso recebido no batismo precisa ser alimentado, aprofundado, colocar-se em diálogo com as realidades do mundo atual. Nunca o caminho de fé está pronto. As perguntas de quem encontra dificuldades em crer devem ser acolhidas, não podem ser desprezadas. É preferível a honestidade de quem se pergunta e quer encontrar, do que a indiferença de quem não considera a fé imprescindível para a sua vida e aprendeu a viver unicamente pela razão.
Ainda, como sugere o texto bíblico deste domingo (cf. Jo 20, 19-31), não menos importante é a dimensão da misericórdia para quem caminha com o Ressuscitado. Os discípulos do Ressuscitado trazem consigo a marca da misericórdia, do perdão, da reconciliação. Foi Jesus quem disse: “Os pecados daqueles que vocês perdoarem serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, serão retidos” (Jo 20, 23). São João Paulo II quis que fosse celebrado no segundo domingo da Páscoa o “domingo da misericórdia”. Continuando este caminho, o Papa Francisco nos ajudou a compreender que a misericórdia se situa no centro do cristianismo. O nome de Deus é misericórdia, o nome do cristão deve ser misericórdia. O perdão e as obras de misericórdia são expressão visível da vida cristã que não pode ficar indiferente diante do sofrimento humano.
+ Dom Adelar Baruffi – Bispo Diocesano de Cruz Alta