O sentido de pertença à Igreja

Ao falar da pertença à Igreja, vou citar um pequeno fato. Certa ocasião, ao chegar em minha paróquia de origem, Nova Esperança do Sul, encontro o meu velho pároco, Pe. Abraão Cargnin, de saudosa memória, passando banha em dois porquinhos. Perguntando o significado daquela atitude, ele respondeu: “Trouxe estes dois porquinhos de lugares diferentes, ao colocá-los no chiqueiro começaram a brigar. Eles têm cheiro diferente. Estou passando esta banha velha neles para ficarem com o mesmo cheiro”. Perguntei se depois disso não voltariam a brigar. “Espera para ver”, disse ele. Ao colocá-los novamente juntos, cheiraram-se sem manifestar reação de agressividade e depois de alguns minutos foram comer juntos.

O que este fato tem a ver com a Igreja e o sentimento de pertença? Os porquinhos quando não tinham nada em comum ou identidades diferentes, brigavam, mas quando ficaram com o mesmo cheiro, com algo em comum, reconheceram-se. Ao entrar na Igreja de Cristo recebemos o Batismo, é um rito de pertencimento que dá aos que o recebem uma identidade comum, se tornam irmãos. Para que não briguem, diríamos.

Cada um de nós traz consigo certo senso de pertença a uma família, grupo, time de futebol, partido político, associação etc. No caso da Igreja tudo se assenta sobre um fato de fé. Pelo batismo inicia a pertença à Igreja, é um elemento indispensável para a identidade cristã.

O Papa Francisco, numa de suas catequeses, falando sobre a pertença a Igreja, diz que tudo começou com Deus quando se apresenta a Moisés, no episódio da “sarça ardente”, como o Deus dos pais: “Eu sou o Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó” (cf. Ex 3,15). Deste modo, Ele se manifesta como o Deus que formou uma aliança com os nossos pais e permanece sempre fiel a ela, e nos chama para entrar nesta relação, que é histórica. O cristão pertence a um povo que se chama Igreja e é esta Igreja que o faz cristão.

Recebemos a fé dos nossos pais, dos nossos antepassados, e eles nos ensinaram, pediram para nós o Batismo. Também nos colocaram na catequese, uma catequista nos ensinou o catecismo. Essa é a Igreja, uma grande família, dos discípulos de Jesus.

Caminhar juntos às vezes é trabalhoso e pode ser difícil. Mas a mensagem da salvação chegou até nós pelo testemunho de pessoas que com os seus dons e os seus limites nos ajudaram. E isto significa pertencer à Igreja. Ser cristão significa pertencer à Igreja.

Papa Francisco conclui a catequese com uma oração: “Peçamos ao Senhor, por intercessão da Virgem Maria, Mãe da Igreja, a graça de não cair nunca na tentação de pensar poder desfazer das pessoas, desfazer da Igreja, de podermos nos salvar sozinhos, de ser cristão de laboratório. Pelo contrário, não se pode amar Deus sem amar os irmãos, não se pode amar Deus fora da Igreja; não se pode estar em comunhão com Deus sem fazê-lo na Igreja e não podemos ser bons cristãos se não junto a todos aqueles que procuram seguir o Senhor Jesus, como um único povo, um único corpo, e isto é a Igreja”. (Cf. Catequese do 25 de junho de 2014)

Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana