O verbo se fez carne e veio morar entre nós
Dom Aloísio A. Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul
Caros diocesanos. O Natal se aproxima e é tempo de preparar os corações para acolher o maior presente que a humanidade já recebeu: Deus se faz um de nós, vem morar conosco, em Jesus Cristo. O versículo de Jo 1, 14: “O Verbo se fez carne e veio morar entre nós” sempre me fascinou. Nele sinto-me envolvido profundamente pela Palavra de Deus e o mistério da encarnação, no qual Deus se fez pequeno, menor, para estar muito próximo de nós, como Emanuel: Deus conosco. Fez-se criança, ao nascer de Maria, na gruta de Belém. Como diz o papa Bento XVI: “A Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré” (VD 12). Quando o Verbo (a Palavra) se fez carne algo extraordinário aconteceu para nossa dignidade humana, dando-nos plenitude de vida nova, como exulta um Prefácio natalino: “No momento em que vosso Filho assume nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade: ao tornar-se ele um de nós, nós nos tornamos eternos” (Prefácio do Natal do Senhor, III).
Este Deus continua a encarnar-se na história de todos os tempos, tornando-se pequeno, menor, para ser acessível à realidade humana, a fim de salvá-la e uni-la ao divino, na perene troca de dons entre o céu e a terra. Como afirma um dos Prefácios do Advento: “Agora e em todos os tempos, ele vem ao nosso encontro, presente em cada pessoa humana, para que o acolhamos na fé e o testemunhemos na caridade, enquanto esperamos a feliz realização de seu Reino” (Prefácio do Advento 1A). Esta iniciativa de Deus deseja encarnar-se, inculturar-se, inserir-se no chão da vida: nas pessoas, nas famílias, nas comunidades, no trabalho, na vida da cidade e do campo. É na realidade humana que Deus quer fazer sua tenda, sua casa, por mais simples e humilde que seja. Olhemos o exemplo da simplicidade e do amor de José e de Maria Santíssima que, na palavra do Papa Francisco, “sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura” (EG 286).
São Francisco de Assis, criador do primeiro presépio, em Greggio – Itália, assim se expressa sobre o nascimento de Jesus Cristo: “Um Menino santíssimo e dileto nos foi dado e nasceu por nós (cf. Is 9, 6) no caminho e foi colocado no presépio (cf. Lc 2, 7) porque ele não tinha um lugar na hospedaria (cf. Lc 2, 7)” (Ofício da Paixão do Senhor, 5ª parte – No Tempo do Natal do Senhor, 7). Sim, Jesus nasceu no caminho ou a caminho ou durante o caminho, na realidade dos pequenos e desprezados de sua época, numa gruta de animais, nos arredores de Belém, pois não havia lugar nas casas (Lc 2, 7), recebendo a visita de humildes pastores e de magos que vieram do oriente, guiados pela estrela da fé. Sumos sacerdotes e escribas sabiam tudo sobre Jesus (Mt 2, 4-6), mas não se encontraram com Ele. Não basta conhecer Jesus, mas é preciso encontrar-se com Ele. E eu, vou encontrar-me com Jesus, neste Natal?