O zelo pela correta comunicação

Uma das características do ser humano é a capacidade e a necessidade de se comunicar, com o paradoxo de nem sempre conseguir fazê-lo como gostaria. Toda pessoa gosta e sente necessidade de contar e ouvir experiências, transmitir e ouvir histórias.

Antes da era da imprensa e de todos os outros meios posteriores de comunicação, a história das famílias, dos grupos humanos era transmitida oralmente de geração em geração. Na fé cristã, falamos de história da salvação, a iniciativa de Deus de revelar-se próximo ao ser humano, manifestando-lhe seu amor, estabelecendo com Ele uma aliança, indicando-lhe o caminho da realização plena que tanto busca, culminando com a encarnação de seu Filho que assumiu em tudo a condição humana, menos o pecado. A Bíblia, que relata esta manifestação divina, tem algumas recapitulações do passado e muitas histórias para transmitir ensinamentos. Santo Estêvão, primeiro mártir da fé cristã, recorda diversos momentos do passado do povo até Cristo. O profeta Natã, por meio de uma história, a do rico que tinha ovelhas e gado em abundância, mas que usurpou a única ovelhinha de um pobre para oferecer refeição a um visitante, desmascara o adultério do rei Davi, que tomara a mulher de um de seus comandantes, fazendo-o perecer numa batalha. O próprio Cristo se vale de histórias, as parábolas para manifestar o Reino de Deus.

Pois o Papa Francisco dedica sua mensagem para o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais, neste domingo, coincidindo com a solenidade da Ascensão de Cristo ao céu, justamente à importância da narração para que se possa guardar na memória os fatos relevantes da vida, conduzida por Deus.  Ele se inspira no livro do Êxodo (10,2), segundo o qual Deus indica a Moisés os passos para libertar o povo da “casa da servidão” e como tornar conhecida esta sua intervenção: contar aos filhos e netos como Ele (Deus) realizou seus prodígios e para que soubessem que Ele é o Senhor.

Francisco observa de início que, para não nos perdermos, “precisamos respirar a verdade das histórias boas, histórias que edifiquem, e não as que destruam, histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos”. Continua referindo-se à confusão de vozes e mensagens que nos rodeiam e aponta para a necessidade de uma narração humana, que fale da beleza que carregamos e saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura e revele os laços que nos unem uns aos outros.

Esta breve, mas profunda introdução do Papa à sua mensagem recorda a atitude indispensável diante do que se quer contar, do que se conta e do que se passa adiante, especialmente nas redes sociais. Vale a pena lembrar as três peneiras de Sócrates, filósofo grego, quando alguém o procurou ansioso para contar-lhe algo sobre um amigo comum. O sábio pediu para ver primeiro se o fato passaria por três peneiras: – É absolutamente verdade o que quer contar-me? – Gostaria que outros contassem de você algo semelhante ao que quer me transmitir? É mesmo necessário contar-me o fato que tem a relatar e passá-lo adiante? O interlocutor concluiu que não sobrava nada do que tinha a referir. E o sábio arrematou: quando algo passar pelas três peneiras, conte e todos se beneficiarão. Se não passar, esqueça e enterre, será uma fofoca a menos a envenenar o ambiente e a semear discórdias.

Devemos todos e sempre ter muito discernimento em relação a tudo o que se comunica, sabendo conferir e guardar o que for bom, como recomenda São Paulo (I Tes 5,20). Do contrário, estaremos entre aqueles que espalham tanta coisa pestilenta, especialmente nas redes sociais.

Pe. Antonio Valentini Neto – Administrador Diocesano de Erexim