Onde encontrar a Deus?

Dom Antônio Carlos Rossi Keller  – Bispo de Frederico Westphalen

Conforme vamos ouvir na primeira leitura deste domingo (1 Reis 19,9a.11-13a), o profeta Elias apenas pôde reconhecer Deus no sussurro de uma suave brisa e não nos fatos maravilhosos que lhe perpassaram pela frente: a forte rajada de vento, o terremoto ou o fogo.

De fato, neste acontecimento descobrimos um ensinamento sempre atual. Deus pode aparecer-nos não de um modo surpreendente, mas num estilo completamente diferente, isto é, no “sussurro da nossa vida corrente de cada dia”.

Pensemos um pouco: Quando queremos encontrar-nos com Deus, onde o procuramos? Será nos fatos deslumbrantes, ou na naturalidade dos acontecimentos de cada dia? Fora de nós, no barulho e na agitação, ou dentro do nosso coração?

Muitas vezes não deixamos que seja Deus o grande protagonista da nossa vida, à semelhança do que aconteceu o que nos narra o Evangelho deste Domingo (Mateus 14,22-33): os discípulos de Jesus o confundiram com um fantasma.

Naquela ocasião, Pedro e o grupo de discípulos que o acompanhavam no barco, durante a agitação das ondas, não reconheceram o Mestre, com quem tinham convivido tanto tempo. Ficam assustados e muito temerosos e gritam cheios de medo. Acalmam-se quando Jesus lhes dirige a palavra. Mesmo assim, Pedro pede que o Senhor o mande ir até Ele. Mas, confiado na sua própria experiência e sacudido pela violência do vento começa a duvidar e logo se sente a afundar. Então é que clama pela ajuda do Senhor, que lhe estende a mão, o segura, mas com uma chamada de atenção pela sua falta de fé. Na realidade, naquele momento eles ainda não tinham descoberto a verdadeira identidade de Jesus. Somente depois da Páscoa, quando Jesus não estava fisicamente presente nos acontecimentos difíceis da vida que tiveram de enfrentar, quando Jesus já não se lhes apresentava visivelmente no barco da vida, quando a comunidade cristã era agitada pelas ondas das perseguições movidas pelos pagãos, ou pelas divisões internas é que o reconhecem e sabem que Ele nunca os abandonou. Apenas mudara o modo de se lhes tornar presente.

Foi nas dificuldades da vida que reconheceram o Mestre como o Senhor e o identificaram com Deus seu Pai.

Hoje em dia acontece muitas vezes o mesmo conosco. Quando apenas reduzimos Deus a preceitos ou a determinadas ocorrências é-nos impossível reconhecê-lo. Sempre falta algo que nos impede de reconhecê-lo nas coisas mais simples e banais da nossa vida e somos capazes de, ao comparar com o saber adquirido, com as nossas falsas experiências anteriores, pensarmos: “não é como aprendi”. Tudo nos parece diferente e dizemos: “Este não é o meu Deus”; “Este é um fantasma”; “Este não é aquele Deus de que me falaram na catequese e que eu aprendi de cor”; “Como pode ser Deus aqui, nisto tão simples, quando me disseram que Deus só está…”

Quando, por momentos nos sentimos sós, talvez percamos de vista o Senhor e não O consigamos reconhecer no escuro, no imprevisto, na vida. Apenas a intimidade e o diálogo com Ele nos poderá ajudar a reconhecê-lo nesses momentos difíceis ou pequenos do nosso dia-a-dia e não o confundirmos com um fantasma.

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