Os bens materiais a serviço do Amor

O Livro bíblico do Eclesiastes (orador que fala na assembleia), do qual é tirado o texto da 1ª Leitura deste Domingo (Eclesiastes, 1,2; 2,21-23) é um misto de reflexões morais em prosa e de sentenças em verso. O tema geral deste livro é a vaidade das coisas mundanas, entendida como ausência de valor, de conteúdo. Poderia parecer-nos um texto cheio de pessimismo, mas na verdade não o é. O autor inspirado desautoriza somente os projetos humanos sem futuro, os olhares tacanhos, a insensatez do excessivo cuidado pelos bens terrenos, sobretudo riquezas e prazeres. Este texto, porque é divinamente inspirado, tem uma particular atualidade nos nossos dias.

Com efeito, as pessoas preocupam-se hoje mais com o ter do que com o ser. E, muitas vezes, o dinheiro – o poder econômico – está exclusivamente a serviço do prazer. Muitos cristãos deixam-se escravizar pelo culto dos falsos deuses: a preguiça, o dinheiro, o conforto, o sexo e a boa mesa, como valores exclusivos. Bem cedo experimentam na própria carne a verdade das advertências do Eclesiastes: Vaidade, tudo é vaidade!

Que fica de tudo isto? Qual o resultado concreto destes apegos e escravidões? O ser humano vê secar brutalmente em si as fontes da vida, e acaba por se encontrar condenado à solidão egoísta em que se deixou aprisionar. E pergunta, sem obter resposta: Que sentido tem a minha vida? Para quem trabalho? Neste ambiente doentio, famílias se destroem, casais buscam outros objetivos da vida, diferentes daqueles que assumiram um dia pelo Sacramento do Matrimônio, filhos (quando existem…), quando crescem, tratam de si e esquecem-se dos pais.

O prazer esgota-se e cansa. Esta é a sua única certeza. O dinheiro, se não for posto a serviço do Amor, duma causa nobre, torna-se uma fonte de preocupações e desenganos. É como quem, junto ao precipício, tenta segurar-se em algo que não oferece estabilidade.

No Evangelho deste Domingo (Lucas 12,13-21), Jesus alerta-nos contra a ambição incontrolada dos bens. Ela pode levar-nos à tentação de reduzir até mesmo a missão da Igreja aos simples horizontes da terra: Nem só de pão vive o homem.

Com efeito, estamos na idade do social. Procura-se resolver os problemas da infância e da terceira idade; organizar o esporte e a educação para os jovens; e alargar cada vez mais os horizontes culturais das pessoas com louváveis iniciativas. Mas não nos podemos deter aqui. Ao jovem que tenta envolver Jesus na questão das partilhas de família, Jesus responde que não é esta a Sua missão.

A Igreja prega a justiça e a caridade e forma as consciências. Prepara leigos responsáveis para que assumam a construção da cidade terrestre. Pertence, portanto, aos leigos, concretizar iniciativas livres em favor dos irmãos, buscar soluções para estes problemas. Os leigos que são cristãos precisam ter presente que as suas ambições não ficam realizadas quando estes bens são alcançados. Com todos os problemas sociais resolvidos, o homem pode continuar fora do caminho da salvação. Enriquecer-se aos olhos de Deus é procurar viver segundo o Seu plano, empregar as riquezas para abrir uma conta bancária no Céu, desprendendo-se dos bens para ajudar os outros e as obras de Deus. É este o convite de São Paulo, na 2ª Leitura deste Domingo (Colossenses, 3,1-5.9-11): a que aspiraremos às coisas do alto. Que abandonemos horizontes puramente planos e humanos. Deus nos criou para o céu!

Dom Antonio – Bispo FW