Padres assumem compromissos de cuidado em todo o Regional

A situação que assola o mundo pela pandemia do Coronavírus e as consequências do isolamento social a que fomos impostos, motivaram no Brasil a Campanha É Tempo de Cuidar, da CNBB e da Cáritas Nacional. No Rio Grande do Sul, são inúmeras ações desenvolvidas para garantir o cuidado com a vida, especialmente das pessoas que sofrem de vulnerabilidade social – ainda mais agravada neste tempo.

A pandemia despertou a solidariedade e a empatia, através de campanhas de arrecadação de alimentos e materiais de higiene e limpeza para auxiliar os que precisam. Centenas de agentes de pastorais e lideranças comunitárias se envolvem nestas iniciativas nas mais de 740 paróquias do Estado. Entretanto, em algumas delas, o compromisso foi assumido também e diretamente pelo próprio clero.

Um presente de aniversário

Em Bom Retiro do Sul (Diocese de Montenegro), na paróquia Sagrada Família, o padre Marcos Leandro de Oliveira celebrou seus 34 anos de maneira diferente. Ao invés dos tradicionais presentes recebidos pelo aniversariante, o sacerdote avisou a famílias, os amigos e a comunidade que este ano gostaria de ganhar alimentos. Os presentes não eram para encher a mesa da casa paroquial com uma ceia farta, mas para ajudar aqueles que mais precisam.

Padre Marcos explica de onde nasceu a ideia: “a ação foi realizada numa sexta-feira. No domingo seguinte seria a festa de Santa Rita de Cássia, bem tradicional na nossa paróquia, que devido a pandemia, foi cancelada. A comunidade sempre prepara uma festinha surpresa para comemorar comigo meu aniversário”. Pensando nisso e na realidade de tantas famílias em vulnerabilidade no município, ele teve a ideia conversando com alguns amigos: “Por que não usar a data para fazer uma ação concreta em favor dessas famílias?”.

Idealizada por uma das paroquianas, Ana Augusta, a iniciativa arrecadou 45 cestas básicas “bem recheadas”, conforme padre Marcos. “Elas serão distribuídas na próxima semana a algumas famílias do município que realmente precisam. Estamos fazendo um relatório e cadastramento, pois essa ação provavelmente continuará nos próximos meses. Estamos pensando em deixar a Igreja aberta na 1ª sexta-feira do mês para as pessoas doarem alimentos e esse cadastro de agora servirá para a futura pastoral social que queremos formar na paróquia”, relata o sacerdote.

Apoio às paróquias e comunidades

A Diocese de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, atende 74 paróquias. No local, o clero diocesano decidiu ainda no fim do mês de abril, renunciar de 30% de sua côngrua para auxiliar na manutenção das paróquias.

Segundo Dom José Gislon, Bispo Diocesano, “a pandemia está tendo desdobramentos duríssimos também na realidade econômica mundial, nacional e local. E a Igreja não é e nem deve ser uma instituição que não vive ou não sente a dor que toca o coração dos fiéis”. Por isso, para o bispo a decisão do clero diocesano ajuda a “aliviar a carga de despesas, oportunizando que esses recursos sejam aplicados em benefício dos necessitados da própria comunidade paroquial”. Dom Gislon destaca ainda que a proposta foi acolhida por todos os padres, como gesto concreto de solidariedade do clero da Diocese de Caxias do Sul, sensível à realidade de sofrimento pela qual passa a sua comunidade.

Já na Diocese de Montenegro, que tem 30 paróquias, os padres renunciaram o recebimento de 50% de sua contribuição mensal para ajudar no pagamento dos funcionários e na manutenção de suas paróquias. O mesmo acontece na Diocese de Bagé, onde os padres doaram metade de suas côngruas.

Na Diocese de Santa Cruz do Sul, os padres estão sendo convidados a, livremente, darem a sua ajuda. Segundo o coordenador de pastoral diocesano, padre Roque Hammes, “tem padres que estão renunciando a parte da côngrua enquanto durar a pandemia. Outros retiram toda a côngrua e contribuem com mensalidade para o Setor Social da Diocese. Outros ainda ajudam aos colegas que estão em paróquias mais pobres”. Segundo ele, o clero diocesano decidiu que a ação deveria ser livre, de “acordo com a consciência de cada um” Apesar disso, Dom Aloísio Dilli, Bispo de Santa Cruz do Sul insiste: “ninguém está dispensado de ajudar”.