Pai dá-me a parte da herança

Tantos homens do nosso tempo, em nome da liberdade, afastam–se de Deus como o filho pródigo do Evangelho de hoje (Lucas 15,1-32). Aproveitam-se dos tesouros que o Senhor lhes pôs nas mãos para o abandonarem e ofenderem.

A beleza, a inteligência, a riqueza, a juventude são talentos que é preciso saber aproveitar bem e pôr a serviço de Deus e dos outros. Mas, por desgraça, podem ser tentações que levam à infelicidade. Como ao jovem do Evangelho, podem conduzir à miséria interior. A vida deixa de ter sentido e fica só a desilusão e a frustração.

A vida tem de se gastar ao serviço de Deus. Só assim tem sentido. A liberdade do pecado é libertinagem e escravidão. E o homem iludido por essa falsa liberdade acaba por sentir-se, mais cedo ou mais tarde, frustrado, abandonado por aqueles que se mostravam seus amigos, vazio por dentro e marcado pelas feridas e sujidade do pecado, assim como o filho pródigo.

Aquele jovem acabou a guardar porcos, passando fome e querendo alimentar-se das comidas que comiam. Mas teve a valentia de se enfrentar com a realidade da sua situação. E não deixou morrer dentro de si a saudade da casa paterna, onde era feliz e onde os trabalhadores eram bem tratados.

Hoje falta esta coragem de se enfrentar o pecado, de chamá-lo pelo nome. E essa é a desgraça característica do nosso tempo. As pessoas querem chamar bem ao mal para se justificarem dos seus desvarios. As leis que liberalizam o aborto põem nas mãos dos políticos o poder tornar legítimo aquilo que é um crime horroroso em nome duma pretensa liberdade da mulher. Outros querem tornar legítimas atitudes, opções que contrariam a Lei de Deus. Tudo em nome da liberdade.

É preciso ter a coragem do jovem do Evangelho: sentar-nos a pensar, sermos sinceros conosco mesmos e com Deus. Não chamar bem ao mal, bater em nosso peito com arrependimento, sem nos desculparmos.

Precisamos ainda de ter a coragem de acusar os nossos pecados na confissão: “Pai, pequei contra o Céu e contra Ti, já não sou digno de ser chamado teu filho”. Esta humildade verdadeira que nos leva a acusar-nos com sinceridade abre-nos à misericórdia de Deus. É fundamental para nós confessarmos bem e nos libertarmos do pecado.

Finalmente temos de voltar para a casa paterna através do arrependimento, da nossa contrição. “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai”, diz o filho pródigo. A conversão é esse voltar para a casa do pai, com a certeza de que Ele nos espera para nos acolher e perdoar.

O mais importante é sempre a contrição, o ter dor interna dos pecados. Devemos pedir ao Senhor nos dê essa dor das nossas faltas.