Pastoral da Criança: combate a mortalidade infantil e promove desenvolvimento integral das crianças
“Para que todas as crianças tenham vida e a tenham em abundância” (Jo10,10)
A Pastoral da Criança trabalha intensamente no combate a mortalidade infantil e no desenvolvimento integral das crianças desde sua concepção até os 6 anos de idade. É um Organismo de Ação Social da CNBB e em parceria com o poder público estimulou a formação de políticas que atendessem as necessidades de milhares de comunidades carentes. Depois de 34 anos de muito trabalho, pesquisas científicas, intensas discussões, debates, avançamos um pouco mais no cuidado e atenção das crianças na Primeira Infância. Ainda temos muito por fazer e queremos trazer nesse artigo ações que a Pastoral da Criança desenvolve desde sua fundação.
Pastoral da Criança como é atuação
Lembramos que os voluntários da Pastoral da Criança, desde a sua fundação em Florestópolis, norte do Paraná no ano de 1983, pela médica e sanitarista Dra. Zilda Arns Neumann, busca através de ações simples e de baixo custo financeiro desenvolver sua missão em famílias mais carentes. Hoje nosso objetivo é garantir o desenvolvimento integral das crianças, desde o ventre materno. São três Ações Básicas: Visita Domiciliar, Celebração da Vida e Reunião de Reflexão e Avaliação. Além destas existem outras que chamamos de complementares: Brinquedos e Brincadeiras e Articuladores de Saúde e também as Campanhas: Mil Dias e Antibiótico Primeira Dose. Essas ações envolvem saúde, educação, cidadania e nutrição e tem como missão estimular as famílias a buscarem sua própria transformação por meio de orientações de seus voluntários. O trabalho é realizado com o esforço e zelo, por mais de 100 mil voluntários, e mensalmente cerca de 735 mil famílias são acompanhadas, segundo dados da Pastoral da Criança.
A Pastoral da Criança procura organizar a comunidade e formar líderes voluntários que lá moram. Abraçam o trabalho de acompanhar famílias para que estejam preparadas para assumir com responsabilidade a Missão de cuidar das crianças na sua integralidade, desde o ventre materno. Para isso forma lideranças comunitárias para que se integrem à comunidade e cada voluntário é convidado a acompanhar de 10 e 15 crianças vizinhas nas ações básicas. Identificando as necessidades sentidas de cada comunidade a Pastoral da Criança está comprometida com ações de fácil compreensão e entendimento que são capazes de serem realizadas por todos independente do conhecimento que carregam. A formação inicial de todos os voluntários que atuam na Pastoral da Criança é o Guia do Líder. Esta formação é um pilar para o trabalho do líder voluntário e porta de entrada para as outras formações. Os materiais educativos desenvolvidos na Pastoral da Criança chegam aos voluntários acompanhados de uma formação. A estratégia usada para envolver os voluntários é fundamentada em necessidades sentidas na própria comunidade, assim espera-se que se tenha uma maior adesão.
Ações que salvam Vidas
Na visita domiciliar, os Líderes podem conhecer melhor a situação de vida e as necessidades das famílias para poder ajudá-las com algumas orientações sobre alguns cuidados básicos. É uma oportunidade para conversar principalmente com as gestantes e se aproximar dos outros membros da família. Passado um tempo, as famílias e os Líderes desenvolvem laços de confiança mútua, o que proporciona uma abertura maior entre ambas. As gestantes recebem orientações sobre a importância de se fazer o pré-natal, de buscar ajuda nos primeiros sinais de perigo na gestação, de como ter uma gravidez tranquila e sobre seus direitos e deveres.
Na visita, os Líderes encontram situações mais delicadas, pois se deparam com inúmeros problemas sociais, como alcoolismo, drogas, violência doméstica, desemprego. Nesses casos se procura trabalhar em REDE com outros grupos ou busca parceria com os serviços públicos. Na visita também são levados alguns materiais para serem consultados pelas famílias. Para as gestantes, em específico, são levados os Laços de Amor, que foi idealizado para os nove meses de gestação e os seis meses de vida da criança. Também há orientações sobre a amamentação e um importante estudo científico que aponta que os cuidados da gestante, durante a gestação e nos primeiros dois anos de vida da criança, que equivalem aos primeiros mil dias, têm influência direta nas condições de saúde da pessoa na vida adulta e por isso a importância de poder começar o acompanhamento antes desse período. No dia da visita domiciliar, os Líderes então convidam para a outra Ação que é a Celebração da Vida.
No dia da Celebração da Vida é o dia do encontro entre Líderes, famílias e crianças. É atividade importante e fundamental que o Líder realiza na Pastoral da Criança. Nesse dia, que acontece uma vez ao mês, os voluntários e as famílias se reúnem para conversar, fazer perguntas sobre alguma dúvida sobre o bebê ou a criança e receber orientações de profissionais que também são voluntários e, assim, poder celebrar juntas com a comunidade as pequenas conquistas das suas crianças. Nos últimos anos, nota-se que a obesidade infantil é um grave problema e atinge um grande número dessa população. Por isso foram criadas duas ações: “Acompanhamento Nutricional” e “Hortas Caseiras” que visam combater a obesidade infantil. O primeiro, além de acompanhar o peso das crianças, os Líderes, durante a Celebração da Vida, a cada três meses, irão medir a altura das crianças e notando algum problema orientarão as mães a procurar ajuda médica. Já o segundo tem o objetivo de conversar sobre alimentação saudável e plantio e cultivo de hortas caseiras com as famílias acompanhadas. O local para acontecer a celebração pode variar de comunidade para comunidade, podendo ocorrer celebrações em praças públicas, salões paroquiais ou em casas que tenham um espaço, onde todos possam se reunir e favorecer a interação das crianças. O importante é realizar num local que favoreça o comparecimento de todos.
A Celebração da Vida deve ser realizada com poucas famílias para proporcionar que todas possam dialogar e se sentirem acolhidas. Se a criança apresentar abaixo ou acima do peso esperado, os Líderes conversam com a família com maior atenção e, se necessitar, orientam para que se procure o serviço público de saúde para consulta com um médico especialista. É um momento propício para realização de brincadeiras com as crianças, fazendo com que brinquem livremente, havendo interação entre elas. Para acompanhar esses momentos, existem voluntários conhecidos como “brinquedistas e brincadores” que desenvolvem as brincadeiras com as crianças. O brincar na Pastoral da Criança sempre foi abordado de um modo especial, pois é uma necessidade fundamental para o desenvolvimento da criança, sabendo que nos dias atuais os espaços para brincadeiras das crianças são reduzidos ou praticamente inexistentes.
A Reunião de Avaliação e Reflexão é considerada a terceira ação fundamental da atividade do Líder e fundamental para o processo de sua formação. Nos primeiros dez dias de cada mês, os Líderes e o coordenador comunitário devem promover a Reunião para Reflexão e Avaliação. Depois que todos visitaram as famílias e participaram da Celebração da Vida e puderam observar como foi o desenvolvimento das crianças, reúnem-se para conversar e estudar a situação das famílias que acompanham. Para que essa ação seja organizada e dinamizada é adotado o modelo ver-julgar-agir.
Todo esse trabalho visa criar uma educação para uma cultura de paz, a redução da violência e da marginalidade e orientação sobre recursos da comunidade para que as famílias tenham acesso à renda. As iniciativas da Pastoral da Criança desejam prevenir, na família, o abandono das crianças, o que pode levar à busca da sobrevivência nas ruas, e gera uma cultura que cuida do ser humano, do meio ambiente, da vida em sua plenitude para a construção da sociedade justa e fraterna.
Novos desafios no Campo Educativo
Ao longo de sua existência a Pastoral da Criança luta para que a vida seja valorizada na sua integralidade, estimulando ações voltadas ao desenvolvimento da primeira infância. Atenta aos sinais dos tempos hoje tem focado suas ações no acompanhamento nutricional para prevenção da obesidade infantil, foi a primeira organização a promover a campanha sobre os cuidados nos primeiros mil dias (período da gestação mais os dois primeiros anos de vida) da criança. Desenvolveu então um sistema de informação com indicadores que organizam e planejam ações de impacto nas comunidades.
Em 2014 em sua sede Nacional em Curitiba, a Pastoral da Criança inaugurou o Museu da Vida. Um dos objetivos é poder partilhar com a comunidade, todo o conhecimento e a experiência acumulada ao longo dos anos. Com uma visão de futuro, procura evidenciar a diversidade das populações acompanhadas, apontando os novos desafios a serem enfrentados pela sociedade, no desenvolvimento infantil na sua integralidade. O Museu conta com espaços cuidadosamente organizados para que os visitantes possam conhecer assuntos relacionados à promoção da saúde, da nutrição, da educação e da cidadania. Outro objetivo é preservar a memória da Dra. Zilda Arns Neumann. Existe um ambiente onde estão organizados objetos que descrevem a história da médica desde sua infância, até os seus últimos momentos de vida no Haiti, em janeiro 2010, data onde lá estava para partilhar suas experiências.
Referencia:
CUNICO, Ednilson. Pastoral da Criança no Brasil e a Formação de Líderes: contribuições da Pedagogia de Paulo Freire. 2015. 91 f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2015 Disponível em: <https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/9855/1/Ednilson%20Cunico.pdf>. Acesso em: 06/mai. 2017.
Ednilson Cunico
Mestre em Educação pela PUC/SP. Assessor Técnico da Coordenação Nacional da Pastoral da Criança. Integrante do Grupo de Pesquisa “A Diferença, a Desigualdade e a Vulnerabilidade Social na Contemporaneidade” da PUC/PR. E-mail: edcunico@gmail.com