Paternidade, Pandemia e Família
No segundo domingo de mês de agosto, mês vocacional, comemoramos o dia dos pais, e não podemos ignorar que o ser “pai”é uma nobre e divina vocação. Uma vocação que não está ligada só ao ato de “gerar”, mas principalmente à dimensão de um amor responsável, que gera, acolhe, protege e acompanha, num percurso de vida, os filhos que são gerados.
Não podemos negar que, nas últimas décadas, o modo de exercer a paternidade no contexto da nossa sociedade passou por profundas transformações, mesmo naquelas realidades culturais marcadas fortemente pelo autoritarismo paterno e uma submissão reprimida e silenciosa das mães, fruto de um processo cultural de direitos e deveres. Mas, às vezes, fortemente marcado pelos direitos dos homens e deveres das mulheres.
As transformações que ajudaram a mudar a família e o modo de exercer a paternidade aconteceram, em parte, pelas mudanças que foram feitas através da educação.Mas também provêem de uma grande mudança na realidade social e econômica, nas leis que regem a nossa sociedade e no princípio do respeito à vida e à dignidade da pessoa humana.
Durante este período de pandemia, muitas pessoas até se surpreenderam ao ver e ouvir testemunhos de pais que redescobriram a paternidade participativa na vida dos filhos, interagindo com os mesmos na convivência diária. A proximidade entre pais e filhos, principalmente nos primeiros anos de vida, quando bem integrada, favorece a criação de laços afetivos duradouros que perpassam a linha da vida e do tempo.
Como Igreja, comunidade de fé, no segundo domingo de agosto, quando comemoramos o dia dos pais, iniciamos também a Semana Nacional da Família, que este ano tem como tema: “Família, Casa da Palavra”. A palavra é fundamental para promover o diálogo, a comunhão e a integração na vida familiar. O poder falar e o saber ouvir são dois pontos que não podem ser ignorados nem menosprezados para a vida de todos nós, principalmente no ambiente familiar e comunitário. Mas a família, além de ser um espaço ideal para acolher e proteger a vida, é também um lugar privilegiado onde Deus fala, através da sua Palavra, ao coração dos pais e dos filhos. É na família, igreja doméstica, que somos ou deveríamos ser iniciados na caminhada de fé, orientados pelo testemunho orante e participativo de nossos pais. É o lugar onde deveríamos aprender as primeiras noções do amor-serviço, do amor materno e paterno, do amor a Deus e ao próximo, que cria laços e vínculos de corresponsabilidade em relação à família, à comunidade e a sociedade.
Dom José Gislon, OFMCap. – Bispo Diocesano de Caxias do Sul e Presidente do Regional Sul 3 da CNBB