Paz nos Desaventos, Senhora Aparecida!
O compositor Renato Teixeira é o autor de Romaria, famosa canção que em seus versos suplica à Nossa Senhora Aparecida proteção e o seu refrão é bem conhecido: Sou caipira, Pirapora nossa, Senhora de Aparecida. Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida. Entretanto, uma das estrofes merece uma reflexão às vésperas de celebrarmos Nossa Senhora Aparecida, padroeira principal do povo brasileiro e razão do feriado nacional: Me disseram, porém, que eu viesse aqui, pra pedir de romaria e prece, paz nos desaventos. Como eu não sei rezar, só queria mostrar, meu olhar, meu olhar, meu olhar.
Realmente muitos brasileiros seguem a vida em romaria e prece, para suportar os desaventos do cotidiano, que não são poucos e nem fáceis. Na correria dos dias, entre a agitação e o malabarismo para superar os problemas de saúde, educação, desemprego, e vida digna para a família, alguns até desaprenderam de rezar. É por isso que recorrem àquela pequena imagem de terracota, enegrecida pelas águas do Rio Paraíba. Lá onde os caminhos de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro se cruzam e se abrem para todo país chegar ao maior santuário mariano do mundo.
O evento remonta à segunda quinzena de outubro de 1717, quando três pescadores, após uma pesca falida, encontraram uma imagem fragmentada de Nossa Senhora da Conceição. Seus desaventos mudam com a pequena imagem, pois conseguem muitos peixes para um famoso banquete que deveria ser servido ao conde de Assumar e governante da capitania de São Paulo e Minas de Ouro, que estava de passagem pela cidade de Guaratinguetá.
Desde aquela data, cresceu a veneração à Nossa Senhora Aparecida, que recebeu muitas homenagens, desde a princesa Isabel, filha de Dom Pedro II que ornou a imagem com uma coroa preciosa, até cada romeiro e devoto que lá coloca uma flor ou acende uma vela como expressão de seu amor e sua fé.
Muitos passam por aquele lugar santo e se colocam diante do altar de Aparecida, contemplam a Virgem Santa e lá se apresentam como filhos diante da mãe. Mostram suas vidas cansadas e clamam por dias melhores. Levam sonhos e esperanças, preocupações e desalentos.
Nem todos podem estar naquele magnífico templo edificado para saudar a Mãe e Rainha do Povo Brasileiro, mas em todos os lugares, todos os filhos podem deixar-se ver por ela, apresentando-lhe, nesta troca de olhares, uma prece antiga que é retomada pelo Papa Francisco que assim reza: Olhar-Te simplesmente – Mãe –, deixando aberto só o olhar; Olhar-Te de cima a baixo, sem Te dizer nada, e dizer-Te tudo, mudo e reverente. Não turbar o vento da tua fronte; só abrigar a minha solidão violada nos teus olhos de Mãe enamorada e no teu ninho de terra transparente. […] Olhar-Te, Mãe; contemplar-Te apenas, o coração silencioso na tua ternura, no teu casto silêncio de açucenas.
Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria