Pelos caminhos da vida com Jesus

O relato de São Lucas sobre os discípulos de Emaús, que encontram Jesus ressuscitado, é narrado no Evangelho deste 3o Domingo da Páscoa (Lucas 24, 13-35).

Vale lembrar que Maria Madalena inicialmente não reconheceu Jesus ao vê-lo. Devido à sua angústia, sua visão estava turva. Ela o confundiu com um jardineiro.

Da mesma forma, os discípulos de Emaús não o reconheceram, devido à sua profunda tristeza. Eles ficaram desapontados com o rumo dos acontecimentos em relação a Jesus. Como bons israelitas, esperavam um Messias triunfante e libertador. Porém, com a morte de Jesus, seus sonhos foram destruídos e a esperança perdida. Nos diz o Evangelho de hoje: “Nós esperávamos que Ele fosse libertar Israel, mas apesar de tudo isso já faz três dias que todas essas coisas aconteceram”, lamentaram. Apesar de passar três anos na companhia de Jesus, seus discípulos não se convenceram da necessidade da cruz. Eles testemunharam seus feitos milagrosos e o reconheceram como um Profeta poderoso, mas isso foi insuficiente. Eles ouviram os testemunhos das santas mulheres, contando sobre o túmulo vazio, mas como eles mesmos não tinham visto Jesus, esses testemunhos de nada serviram para afastar suas dúvidas.

Enquanto caminhavam ao lado de Jesus, como companheiro de viagem, eles compartilharam suas experiências sobre os acontecimentos em Jerusalém, naquela fatídica sexta-feira. Eles ouviram de Jesus o que as Escrituras falavam a respeito do Messias, mas o conceito de um Messias triunfante não se alinhava com a imagem de Jesus que ficou impressa neles, com a realidade dura da Paixão, com a humilhação e a morte na cruz.

Parecia impossível acreditar em alguém que teve uma morte tão cruel e vergonhosa.

A morte redentora de Jesus foi profetizada por muitos, na história de Israel, inclusive pelo próprio Jesus, que falou dela em diversas ocasiões. Ele repreendeu aqueles que não compreenderam o seu significado, citando a necessidade de o Messias sofrer, conforme fora predito pelos profetas e assim alcançar a glória.

Os corações dos discípulos foram tocados com calor enquanto Jesus falava, mas eles permaneceram céticos.

Isso nos faz compreender que simplesmente ouvir a Palavra ou conhecer a Escritura não é o suficiente para conhecer e reconhecer a Jesus. É possível estar familiarizado com a Bíblia, mas não ter uma autêntica fé em Deus.

Muitos reverenciam o Jesus da História, mas não aceitam que ele continue vivo.

Os discípulos de Emaús não acreditaram mesmo quando Jesus ressuscitado estava no meio deles.

Isto é, para nós, um lembrete de que, sem fé, sem cuidar de aumentá-la, já que ela é um dom de Deus que precisa ser acolhido e tratado, podemos nós também não reconhecermos a presença do Senhor, mesmo quando Ele caminha ao nosso lado.

Quando Jesus ia partir visivelmente deste mundo, seus discípulos imploraram que ele ficasse. “Fica conosco Senhor“, reconhecendo o medo de perder Jesus e voltar para a escuridão, para o desânimo.

O convite a Jesus refletia tanto seus corações bondosos, amorosos por Jesus, quanto a gratidão por sua presença. Com Jesus ao lado deles, em suas almas foram reacesos o amor, a confiança em Jesus e a esperança foi restaurada.

Jesus aceitou o convite dos discípulos, e juntou-se a eles à mesa, onde abençoou e partiu o pão, evocando memórias da Última Ceia. Foi então que seus olhos se abriram, e eles perceberam quem estava no meio deles.

Queridos irmãos, será que a razão da estagnação espiritual de alguns cristãos não decorre da falta de sustento que a Sagrada Eucaristia, que é Jesus, pode dar? Será que nossa realidade espiritual e humana não é a de gente faminta e fraca, pela ausência da Missa Dominical e da Sagrada Comunhão?

Na Eucaristia, Cristo está presente e atuante entre nós. Aqui, todos podem encontrá-lo, ouvi-lo e unir-se a Ele.

No Sacramento do altar, Ele caminha ao nosso lado, como nosso companheiro, nesta jornada chamada vida.

É aqui que recebemos o alimento que sacia nossa fome de infinito.

Como nos diz o Evangelho: “Os discípulos reconheceram o Senhor Jesus ao partir o Pão”.

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen