Perfume de cristão
A biografia dos santos é sempre uma verdadeira catequese. Nas minhas leituras eu encontrei algo muito curioso sobre São Felipe Neri, que viveu nos idos de 1500 na Itália. Ele era conhecido pelo dom de sentir o mau cheiro da alma das pessoas que estavam em pecado. Claro que as pessoas não possuem o mesmo dom de São Felipe Neri, elas podem sentir o cheiro do nosso perfume, mas não da nossa alma. E se pudessem, seria um cheiro bom ou um mau cheiro?
Não há perfume que disfarce o mau cheiro. Por isso é necessário lavar a alma. Lavar a alma segundo o Salmo 32 consiste em confessar o nosso pecado, reconhecer a falta cometida, nos arrepender, nos convencer de que aquilo não é bom para nós; nos deixar libertar e curar por Deus.
Deus nos ama e seu amor nos cura, nos liberta, nos salva. Ele derrama continua e generosamente sobre nós o perfume da vida de seu Filho, por meio do Espírito Santo. Mas, quantas vezes nós respondemos a essa generosidade, a esse imenso amor, com atitudes mesquinhas. Quantos de nós vivemos nossa fé querendo apenas receber, mas nunca ou raramente doar. Nós somos generosos com Deus no tempo que diariamente reservamos, ou deveríamos reservar, para a nossa oração? Nós exalamos o perfume do nosso dízimo, da nossa doação, ou o mau cheiro do egoísmo, da falta de compromisso com a comunidade?
O perfume verdadeiro da nossa alma deve ser a santidade, e a santidade consiste em caminhar com os sofridos, doentes, carentes. Uma das expressões mais marcantes do Papa Francisco é aquela, quando na sua primeira missa crismal, falando aos padres disse: “sede pastores com o cheiro das ovelhas”. Sem dúvida ter cheiro de ovelhas é o melhor cheiro que os cristãos podem exalar. Só tem cheiro das ovelhas quem convive com as ovelhas, só tem cheiro das ovelhas quem se faz próximo das ovelhas, só tem cheiro das ovelhas quem se coloca no lugar das ovelhas. O que diríamos de nós? Nós somos pastores com cheiro das ovelhas?
Com e como Jesus é preciso exercer nossa missão onde a vida está ameaçada, não onde a vida está protegida. Evidentemente, a missão dos discípulos e missionários de Cristo deve acontecer em todos os lugares, mas começando pelas periferias. É lá que precisamos exalar o perfume da fé, da esperança e da caridade, seguindo os passos de Jesus que não começou sua missão no grande centro da época, em Jerusalém, e sim no interior, na Galileia.
Pe. Jair da Silva – Diocese de Bagé