Período pré-eleitoral: escutar, observar e analisar
Estamos em tempo de campanha eleitoral em vista das eleições municipais para prefeitos e vereadores. A oportunidade de escolher prefeitos e vereadores nos diferentes municípios da região é uma tarefa de grande responsabilidade. Tenhamos consciência deste ato. É comum nos regimes democráticos oportunizar a escolha, de tempos em tempos, de governantes que assumam o compromisso de servir a sociedade civil, em vista do bem comum, respeitando e praticando a Constituição Federal. Devem gestar os bens do povo com responsabilidade, sobriedade e espírito de serviço, não em benefício próprio, mas de toda a população. É o exercício da melhor política colocada a serviço do bem comum, como afirma o Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti.
A campanha, que dura um pouco mais de um mês, deve se pautar num primeiro momento pela escuta, observação e análise dos projetos que serão apresentadas à população através do contato pessoal, pelas redes sociais, rádio e televisão. É tempo de escutar as diferentes propostas para decidir qual seria a mais plausível em vista do bem dos habitantes do município. É necessário observar a vida dos candidatos, especialmente as opções que têm assumido e as pautas que têm sido apresentadas, pois revelam suas verdadeiras preocupações. Lembra-se aqui alguns critérios: vida passada, compromisso com a comunidade, conduta moral, respeito ao bem público, capacidade de liderança, projeto social que defende visão de ser humano, perspectiva ecológica, visão econômica, dentre outros.
Vale a pena observar e analisar se os candidatos apresentam propostas viáveis e possíveis de serem concretizadas; se estas se voltam para o bem da comunidade, visto que a política se prima pela preocupação com o bem comum (EG 205). Tomemos cuidado com os discursos fáceis, também as propostas difíceis de serem executadas ou a ausência de propostas de trabalho com forte apelo demagógico.
São algumas possibilidades neste tempo pré-eleitoral que compreendem a necessária participação e o compromisso de se contribuir com a construção de um município como espaço do bem viver para todos. Não é possível omitir-se neste processo. Quanto mais participação da população, mais nítido se torna o debate e o acerto na escolha dos candidatos.
As eleições municipais também permitem que se reflita sobre a sociedade que queremos e que passa pela articulação nos municípios, consequentemente pela escolha das representações nos espaços do governo municipal. Estaremos confiando ao prefeito e vereadores o cuidado, pelo prazo de quatro anos, de algo que é de todos. O bem público presente na esfera municipal. Neste caso torna-se necessário conhecer as propostas para a administração do bem público assim como os setores serão atendidos. A opção pelo atendimento deste ou aquele setor revela uma opção política e cabe sempre perguntar-se sobre a verdadeira necessidade da opção feita.
Vivemos em um país que optou constitucionalmente pela democracia representativa. Sua característica é a delegação de autoridade a pessoas que representam a população nos poderes legislativo e executivo. Todavia a representação, feita via eleição, não significa o exercício do mandado desconectado da vida da população. É necessário pensar mecanismos de controle social dos mandados, o que significa o aprofundamento da democracia. A representação através de mandatos eleitos desligada dos anseios do povo fragiliza a democracia.
A eleição de uma entre tantas propostas de exercício de mandato não significa o fim do processo. Ele continua através do diálogo com a população e prestação de contas dos eleitos sobre como estão exercendo o mandato a eles confiado. É salutar para a preservação da participação a consulta da população sobre temas importantes na esfera municipal. Qualquer decisão que afete a vida dos munícipios exige uma ampla consulta em vista do fortalecimento da participação.
A pandemia que enfrentamos revelou a exigência de uma sociedade voltada ao cuidado e a proteção da população, especialmente aqueles que estão com vida ameaçada, porque esta missão demanda da missão de Jesus (Jo 10,10) e consequentemente dos seus seguidores. A desigualdade social é contra o evangelho de Jesus Cristo. Nos municípios ela se explicita de forma bem visível nos desempregados, trabalhadores informais, sem teto, dependentes químicos, famintos… A reflexão proposta para o mês da bíblia deste ano (setembro) trazia como lema: “abre a mão para o teu irmão” (Dt 15,11). É um compromisso pessoal, constitutivo da fé professamos e também compromisso da comunidade política, especialmente dos ocupantes dos cargos eletivos. É importante considerar o enfrentamento desta situação na escolha das representações.
Portanto, votar com consciência e em vista do bem de todos, é compromisso evangélico e contribuição para que a política assuma sua vocação, a construção do bem comum e permita fazer acontecer o desenvolvimento de uma comunidade de paz, capaz de realizar a fraternidade (cf. FT 154).
Pe. Ari Antonio dos Reis