Permanecer em Cristo para dar frutos

 

A comparação do povo escolhido com uma vinha tinha sido utilizada no Antigo Testamento. No Salmo 80 fala-se da ruína e restauração da vinha arrancada do Egito e plantada noutra terra; e no cântico de Isaías (5, 1-7), Deus queixa-se de que a sua vinha, apesar de todos os cuidados, tenha produzido frutos amargos em lugar de uvas doces.

Assim como no Antigo Testamento, Jesus também utilizou a imagem da vinha na parábola dos vinhateiros homicidas (Mateus 21:33-43). Nessa parábola, Ele revelou sua rejeição por parte dos judeus e o chamamento dos pagãos para o Reino de Deus. Jesus apresentou-se como a verdadeira videira, e o antigo povo escolhido, a velha vinha, foi substituído pelo novo povo, a Igreja, cuja cabeça é Cristo (1 Coríntios 3:9).

Permanecer em Cristo é algo muito mais profundo do que simplesmente estar vinculado externamente a alguma organização. Não se trata apenas de pertencer à Igreja ou a uma Comunidade, mas de participar vivencialmente na vida de Cristo, na vida da Graça que flui como seiva vivificante no cristão batizado, capacitando-o a dar frutos de vida eterna.

Somente aquele que mergulha na própria vida divina, de certa forma, tornando-se divinizado e participando da natureza divina, pode verdadeiramente permanecer em Cristo. Cada um de nós é como um pedaço de ferro que, lançado ao fogo, se torna fogo, sem deixar de ser ferro. Somente quando permanecemos em Cristo dessa maneira, somos verdadeiramente filhos de Deus, herdeiros do Céu, templos do Espírito Santo, santos e agradáveis a Deus. Permanecer em Cristo é unir-se a Ele e conviver com Ele: na oração, na escuta da Palavra e em sua meditação, na participação na Eucaristia – sacrifício e comunhão. Permanecer em Cristo é como ir a uma praia e se expor ao sol. Permanecer em Cristo é abrir-lhe o coração, confiar-lhe todos os problemas, criar uma profunda intimidade. Cristo deseja que permaneçamos nele porque nos ama. Permanecer em Cristo não é só uma honra. É uma necessidade para o homem. Permanecer em Cristo é “Viver, mas só viver em Cristo” (1 Coríntios 3:9).

O dar fruto está intrinsecamente ligado ao permanecer em Cristo. Dar fruto é uma consequência natural de permanecer em Cristo. Dar fruto não pode ser separado do permanecer em Jesus Cristo. Quanto mais permanecemos em Cristo, mais frutos produziremos. O fruto é proporcional ao nosso grau de permanência nele. Damos frutos, quando somos bons trabalhadores, bons colegas de trabalho, pessoas competentes, serviçais, simpáticos, alegres e caridosos. Tudo isso é feito por amor a Cristo, vivificados pela graça divina.

Dar fruto é essencial para a vida do cristão. Jesus nos diz no Evangelho de hoje (João 15,1-8): “A glória de Meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos”. A eficácia da nossa oração depende da nossa permanência em Cristo: “Se permanecerdes em Mim e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido”.

Dar fruto também envolve o processo de ser purificado: “Eu sou a verdadeira videira e Meu Pai é o agricultor, Ele… limpa todo aquele que dá fruto, para dar ainda mais fruto”. Fica claro que Cristo não se contenta com uma entrega parcial. Ele purifica aqueles seus por meio de contradições e dificuldades, que funcionam como uma poda, a fim de que possam dar mais frutos. Embora seja doloroso, esse processo de purificação resulta em frutos gloriosos e maturidade nas obras (São Josemaría Escrivá, Caminho, n° 701). Cristo purifica-nos dos erros, instruindo-os. Ele purifica dos afetos terrenos desordenados, despertando-nos para as realidades celestiais.

Amar com obras e verdade é cumprir os mandamentos, como nos ensina a 2ª leitura (1a São João 3,18-24). Amar com obras e verdade é acreditar em Jesus Cristo. Amar com obras e verdade é amar os outros “como Ele nos mandou“.

Amar com obras e verdade é agir como São Paulo, que, após ver a Jesus, pregava com firmeza em nome de Jesus, como nos ensina a 1ª leitura (Atos 9,26-310). São Paulo também debatia com os helenistas, que procuravam matá-lo. Amar com obras e verdade é agir como os irmãos que, ao verem São Paulo em perigo, levaram-no para Cesareia e de lá o enviaram para Tarso.

Nós somos exortados a amar com obras e verdade, a manifestar nosso amor mediante ações concretas e genuínas. Somente quando amamos com obras e verdade, cumprindo os mandamentos, acreditando em Jesus Cristo e amando os outros como Ele nos ordenou, podemos verdadeiramente expressar o amor que recebemos Dele.

Aproveitemos o Tempo santo da Páscoa para nos unirmos mais ao Senhor Ressuscitado, para darmos muitos frutos de santidade em nossa vida.

 

Dom Antonio Carlos Rossi Keller – Bispo de Frederico Westphalen