Pertencer à Igreja
Na semana passada refletíamos sobre o sentido de pertença à Igreja. Queremos retomar este tema, pois vivemos num mundo profundamente marcado pela fragmentação e enfraquecimento dos vínculos, daí a necessidade de reavivar a consciência de pertença e amor à Igreja.
Na base da pertença à Igreja está Jesus Cristo e seus discípulos. Jesus formou uma comunidade; ser discípulo de Jesus, é participar da sua comunidade. A experiência vivida pelos Doze e depois pelos 72, de que nos fala a Palavra de Deus, não foi uma realidade do passado, mas é permanente. O chamado e envio de Jesus se atualizam em nosso e em todos os tempos. O sentido de pertença à Igreja decorre do sacramento do batismo e é alimentado pela fé e pelo testemunho da comunidade.
É na Igreja que seguimos a Jesus Cristo, que testemunhamos a nossa fé, fazemos a experiência de vida fraterna e comunitária, exercitamos a vivência do mandamento de amor e damos continuidade ao projeto do Reino de Deus. O sentimento de pertença vem da identidade da Igreja que é o Corpo místico de Cristo (1Cor 12,27) – e cada fiel é membro desse Corpo, cada membro é parte viva dele! Nenhum membro pode se imaginar fora do corpo! Como o ramo da videira, se cortado perde a vida (Jo 15,6).
Aspectos positivos do sentimento de pertença a Igreja: a) Uma fé dinâmica e crescente, que se manifesta em amor fraterno. Somente juntos podemos fazer a experiência do perdão, da bondade, da solidariedade, da compaixão e da misericórdia; b) O senso de pertença à Igreja nos desperta para conhecer as suas origens, desejo de ler e meditar a Palavra de Deus. Quem diz que ama a Igreja, mas não sabe dizer nada sobre ela, está simplesmente baseado na dimensão afetiva. Pedro diz que é preciso dar razões da fé (cf. 1Pd 3,15); c) O sentido de pertença eclesial se expressa na nossa participação pessoal e engajamento comunitário numa comunidade local; é sempre em nível local que se concretiza o nosso amor à Igreja; d) Outra forma do senso de pertença eclesial é a acolhida, fidelidade e respeito para com todas as lideranças, desde o Papa ao agente da comunidade. Disse Jesus aos apóstolos: “Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10,16);
Atitudes negativas e contrárias ao sentido de pertença: a) Quando somos indiferentes é porque não tem importância e não damos valor. Não podemos ser indiferentes à nossa mãe Igreja, pois ela nos gerou na fé; b) O comodismo é outro sentimento negativo, mantém a pessoa na sua zona de conforto, não se importa, não dá a sua contribuição, prefere o seu egoísmo; c) Quando o cristão não leva a sério as responsabilidades assumidas, diz que sim, mas desaparece, é negligente, apático, desleixado; d) Outro mal para a vida da Igreja é a fofoca. Comentários maldosos, visão distorcida da realidade, murmuração, são reveladores de pouco amor à Igreja.
Quem ama a Igreja permanece sempre ligado a ela: veja que, “tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu” (Mt 18,18).
Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana