Práticas quaresmais

Dom Jaime Spengler – Arcebispo Metropolitano de Porto Alegre e presidente do Regional Sul 3 da CNBB

A esmola, a oração e o jejum são os três pilares da religião: definem o nosso  relacionamento com os outros, com o Outro e com as coisas. Esses três relacionamentos caracterizam a nossa existência!

Qualquer nossa ação pode ser realizada de duas maneiras opostas: para o nosso autocomprazer, autopromoção, receber elogios e reconhecimento dos homens, ou para agradar Aquele que sempre nos louva e reconhece como filhos.

Há quem vive ou morre para ser visto pelos outros. Quem não é visto por ninguém, não existe. O ser humano tem necessidade de ser reconhecido: sua identidade é como o outro o vê.

Se procuro nos outros reconhecimento, nunca estarei satisfeito, serei sempre escravo do juízo dos outros e da minha tentativa de sempre passar uma boa imagem de mim mesmo; terei o culto da imagem (= idolatria) do meu eu em vez da realidade de Deus.

O ser humano é imagem e semelhança de Deus: se está diante dele recebe a própria realidade; é ele mesmo, livre de qualquer escravidão. “Tanto é alguém quanto é aos teus olhos e nada mais”, diz S. Francisco (Imitação de Cristo III 50,37). A sua recompensa diante do Pai é a própria verdade de filho.

Se, pelo contrário, está diante de outro ser humano, é como um espelho diante de outro espelho: se refletem ao infinito a própria vacuidade, ou se quer as próprias molduras, os próprios limites.

Somente quem sabe que é filho de Deus, amado infinitamente – o meu ser é o seu ver-me e amar-me – está livre da vanglória: possui a verdadeira glória. A fé é conhecer esta glória. “Por isto não pode acreditar em Deus quem procura a glória dos homens” (Jo 5,44).

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