Preparai o caminho
Há uma semana iniciamos o tempo litúrgico do Advento como preparação para o Santo Natal. Tempo que convida para redescobrir e aprofundar a relação pessoal com Deus. A vinda de Jesus, celebrada no Natal, revela o primeiro plano do movimento de Deus rumo à humanidade. Agora, os visitados são convidados a responder com abertura, com expectativa, com busca e adesão livre.
A liturgia oferece personagens relevantes na preparação da vinda histórica de Jesus. Neste segundo domingo do Advento destaca-se João Batista (Marcos 1,1-8). O evangelista Marcos, sem se preocupar com as origens de João Batista, simplesmente diz que ele “apareceu no deserto, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados”. Porém, Marcos recorda o que estava escrito em Isaías 40,1-5.9-11. “Grita uma voz: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus. (…) Sobe a um alto monte, tu, que trazes a boa-nova a Sião”.
João Batista exerce o seu ministério no deserto e seu modo de viver era austero, tanto na vestimenta como no alimento. O deserto designa o lugar geográfico, mas também tem um valor simbólico. No deserto, para sobreviver, se pensa em primeiro lugar naquilo que é essencial: água e alimento. O supérfluo, a abundância, o excesso fica em segundo plano. O estilo de João Batista chama todos os cristãos a escolher a sobriedade como modelo de vida, também nas festas de Natal. A sobriedade de consumir também revela compromisso com a ecologia integral.
João Batista também indica o caminho para recuperar o essencial. A sobriedade do estilo de vida conduz para a mudança interior, para a conversão. Enquanto nos preparamos para o Natal é importante que olhemos para nós próprios e façamos um exame sincero da vida. É ir ao deserto em sentido simbólico. A referência para examinar a vida pessoal e o mundo é a Palavra de Deus. A sua leitura, escuta permanente, reflexão vão iluminando os recantos obscuros e projetando raios de luz. A luz é um dos grandes símbolos do Natal. João Batista como voz “forte” alertava que sem mudança do que há de errado, não é possível surgirem novas pessoas e nem que a “servidão acabou e a expiação das culpas foi cumprida” (Is. 40,2). Portanto, o Batista é rigoroso em seu ensinamento moral pois toca na raiz da origem do mal.
João Batista indica claramente a meta onde quer conduzir os ouvintes que é alcançar Jesus Cristo. Diante do quem virá, “não sou digno de me abaixar e desamarrar suas sandálias”. Todo o Advento com sua riqueza litúrgica, seus muitos símbolos, costumes tem a finalidade para conduzir a Jesus. No meio de tanto riqueza e variedade de manifestações natalinas deve ser constantemente redescoberto o essencial e a pureza da fé. O Menino Jesus não pode ser um detalhe do conjunto, mas o ponto de partida e de chegada.
O estilo austero, provocador e um tanto rígido de São João Batista pretende suscitar a esperança e fazer as pessoas sonharem quem uma realidade nova. Ele não veio anunciar a destruição, mas apontar para Alguém muito especial. A Carta de São Pedro, da liturgia dominical do segundo Domingo do Advento, expressa-se assim: “O que esperamos de acordo com a sua promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça. Caríssimos, vivendo nessa esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz (2 Pedro 3,13-14).
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo