Promoção da vida: responsabilidade de todos

Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O fenômeno trágico e complexo do suicídio tem causado preocupação em diversos setores da sociedade, sobretudo quando atinge adolescentes e jovens.

É verdadeiro que distúrbios psíquicos graves, a angústia, o medo grave da provação ou do sofrimento podem ser causa de suicídio. Pela natureza da surpresa e incredibilidade, o suicídio pune emocionalmente a todo o entorno – familiares, amigos, companheiros de estudo e/ou trabalho – de quem cumpre esse gesto extremo.

Psicólogos, psiquiatras, pedagogos e sociólogos têm se empenhado para tentar compreender as razões do fenômeno. Os esforços para encontrar explicações plausíveis se multiplicam. Há quem afirme que uma das razões seria a falta de ideais ou objetivos capazes de empenhar toda uma vida.

O futuro se oferece como uma paisagem imprevisível que paralisa iniciativas e apaga o entusiasmo.

É também verdadeira a comparação da estrutura humana a um tapete: de um lado se veem belas figuras; mas de outro, no lado debaixo, é marcado por nós e fios retorcidos que não se veem. Esclarecer o porquê e o como dos nós e dos fios retorcidos é um enorme desafio. E, no entanto, são eles que garantem a beleza da peça.

O ser humano sente e vive a necessidade de, com cuidado e atenção, “desatar as coisas que estão emaranhadas e atar os fios soltos” de sua existência. Nesse trabalho estão envolvidos a pessoa, os familiares e amigos, como também as instituições de educação, saúde e religiosas.

Estudos científicos consistentes mostram o quanto a religiosidade é um fator protetor para o suicídio. Mais ainda: níveis mais elevados de envolvimento com a religião estão associados positivamente com indicadores de bem-estar psicológico, com menos depressão, comportamento suicidas e abuso de drogas.

A fé cristã compreende a vida humana como dom que precisa ser preservado. Ela não é propriedade individual, pois traz vínculos de solidariedade com as sociedades familiar e humana. Por isso, urge envolver todas as forças da sociedade que acreditam, cuidam e promovem vida plena para todos, a fim de auxiliar adolescentes e jovens a assumirem a existência com seus desafios e oportunidades, sem se deixar em conduzir pelo positivismo das ciências ou dogmatismos religiosos.