Promover o bem comum: tarefa de todos!
Dom Jaime Spengler – Arcebispo metropolitano de Porto Alegre
Presidente Regional Sul 3 da CNBB
O Rio Grande do Sul experimenta uma crise econômica desafiadora. O Brasil vive uma crise política, econômica e ética grave. A imprensa não se cansa de apresentar informações a respeito da situação regional e nacional. Nós, cidadãos comuns, sentimos um misto de indignação e preocupação – afinal, o desemprego é uma realidade cruel! Outros parecem não se preocupar, pois o sistema financeiro aparenta oferecer sinais positivos. Afinal, os bancos continuam apresentando grandes lucros. Não faltam os que se perguntam: o que fazer? Como reagir? Há solução para superar o atual momento?
O Conselho Episcopal Latino Americano (Celam) promoveu recentemente, de 1º a 3 de dezembro, um convênio destinado a “leigos católicos que assumem responsabilidades políticas a serviço dos povos da América Latina”. Papa Francisco enviou a esse convênio uma vídeo-mensagem, na qual propõem algumas indicações em vista da promoção da atividade política no continente Latino-americano e da superação da crise que assola também o continente. O texto que segue apresenta algumas dessas indicações.
A atividade política é um inestimável serviço de dedicação em vista do bem comum na sociedade. A atividade política é antes de tudo um serviço. Ela não é serva de ambições individuais, da prepotência de grupos e de centros de interesses. Como serviço ela não pode pretender regular todas as dimensões da vida das pessoas, caindo numa espécie de autocracia e totalitarismo. Compreendida como serviço à sociedade, ela pode ser considerada um serviço de sacrifício e de dedicação, a tal ponto que, às vezes, se pode considerar as pessoas empenhadas na atividade política como “mártires” de causas em favor do bem comum.
A atividade política requer constância, empenho e inteligência. O objetivo maior é o bem comum, sem o qual os direitos e aspirações nobres das pessoas, das famílias e das instâncias intermediárias da sociedade não podem realizar-se plenamente.
O bem comum “compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” (GS, 74).
Certamente não se pode contrapor o serviço ao poder. No entanto, o poder deve estar ordenado para o serviço, a fim de não degenerar. Se o poder não é compreendido como serviço, degenera.
Há certamente muitas pessoas íntegras, competentes e honestas que se dedicam à atividade política, verdadeiramente empenhadas na promoção do bem comum. Entretanto, não faltam sinais de degeneração da atividade política. O noticiário quase que diário oferece provas dessa realidade! A corrupção, os grupos sustentados por interesses mesquinhos, a politicagem, a falta de autêntico espírito cívico de alguns expoentes da classe política é uma realidade que preocupa e, ao mesmo tempo, promove um preocupante descrédito da classe política.
Como superar o descrédito da atual classe política? “Para estabelecer uma vida política verdadeiramente humana, nada melhor do que fomentar sentimentos interiores de justiça e benevolência e serviço do bem comum e reforçar as convicções fundamentais acerca da verdadeira natureza da comunidade política, bem como do fim, reto exercício e limites da autoridade” (GS, 73).