Quantas vezes devo perdoar?
O Evangelho narra que Pedro perguntou a Jesus quantas vezes deveria perdoar, se seria até sete vezes. Jesus respondeu que não, mas até setenta e sete vezes, ou seja, perdoar sempre (cf. Mt 18,21-35). A referência para o perdão deve ser a misericórdia, e não a retribuição ou a vingança. Jesus apresenta o rosto de um Deus cheio de bondade e de misericórdia. Ele está sempre pronto a perdoar de forma ilimitada e absoluta, porque ama sem cálculos e sem limites. Ele nos convida a assumir uma atitude semelhante para com os irmãos que caminham ao nosso lado.
Por certo, já ouvimos a expressão “aquela pessoa não merece o meu perdão”. Não nos cabe julgar se merece ou não. Perdoar é uma exigência para ter paz no coração, por isso que Jesus manda perdoar sempre.
Conta uma história, de autor desconhecido: “Um famoso senhor com poder de decisão, gritou com um diretor da sua empresa, porque estava com ódio naquele momento. O diretor, chegando em casa, gritou com sua esposa, acusando-a de que estava gastando demais, porque havia um bom e farto almoço à mesa.
Sua esposa gritou com a empregada que quebrou um prato. A empregada chutou o cachorrinho no qual tropeçara. O cachorrinho saiu correndo, e mordeu uma senhora que ia passando pela rua, porque estava atrapalhando sua saída pelo portão.
Essa senhora foi à farmácia para tomar vacina e fazer um curativo, e gritou com o farmacêutico, porque a vacina doeu ao ser-lhe aplicada. O farmacêutico, chegando à casa, gritou com sua mãe, porque o jantar não estava do seu agrado.
Sua mãe, tolerante, um manancial de amor e perdão, afagou-lhe seus cabelos e beijou-o na testa, dizendo-lhe: ‘Filho querido, prometo-lhe que amanhã farei os seus doces favoritos. Você trabalha muito, está cansado e precisa de uma boa noite de sono. Vou trocar os lençóis da sua cama por outros bem limpinhos e cheirosos para que você descanse em paz. Amanhã você vai sentir-se melhor’. E abençoou-o, retirando-se e deixando-o sozinho com os seus pensamentos.
Naquele momento, rompeu-se o círculo do ódio, porque esbarrou-se com a tolerância, a doçura, o perdão e o amor: com a MISERICÓRDIA”.
O ciclo da violência se alimenta e potencializa cada vez que recusamos perdoar. Por isso, Jesus manda não só perdoar, mas “amar até os inimigos” (Mt 5,44). Na oração do Pai Nosso nos ensina a rezar que Deus nos perdoará na medida que perdoarmos a quem nos ofende. Na prática não vai adiantar Deus nos perdoar se não perdoarmos, pois a recusa do perdão intoxica o espírito estraga a convivência e mata o amor.
São Paulo escreve para a comunidade cristã de Roma e recomenda que aprendam a conviver com os que pensam diferente e que a relação do cristão com os outros deve ser de respeito e de perdão (cf. Rm 14,7-9). Os seguidores de Jesus que aspiram a vida eterna em Deus, devem voltar sua atenção para o que une a todos: Jesus Cristo, o Senhor.
Somente o perdão romperá o círculo vicioso do ódio e da vingança, construirá relações pacificadas e amorosas, sobretudo, na família e na comunidade de fé.
Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo Diocesano de Uruguaiana