Quaresma e Campanha da Fraternidade 2021 – III
Continuamos na quaresma, tempo litúrgico introduzido, já no IV século da era cristã, para preparar bem a celebração da Páscoa. Nos primórdios do cristianismo, o batismo era celebrado, na maioria das Igrejas, somente na noite de Páscoa, para mostrar como este sacramento está ligado à morte e ressurreição de Jesus Cristo (Rm 6, 3-4). Aos poucos, a quaresma tornou-se ocasião para todos os cristãos retomarem as promessas deste sacramento, atribuindo a este tempo uma conotação penitencial, através da prática do jejum, da esmola e da oração, como ainda fazemos hoje, inspirados no Evangelho de Mateus (Mt 6, 1-18).
Portanto, a quaresma é tempo de penitência, de conversão de vida, de voltarmos para o estado original, como Deus nos quer, a partir do batismo. A conversão consiste em mudar o modo de ser, de viver, de agir, de relacionar-se. Uma vida segundo o Evangelho. Por isso, no rito da Quarta-Feira de Cinzas, no momento da imposição, o Ministro diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. O centro do Evangelho é o mandamento do amor, ensinado por Jesus Cristo, em palavra e testemunho vivo, ao dar sua vida por nós.
Como brasileiros, desde 1964, estamos acostumados a viver a Campanha da Fraternidade, neste tempo da quaresma. É a forma de viver o mandamento da caridade, do amor ao próximo, concretamente. Em 2021, queremos fazer essa campanha de sermos mais irmãos, de forma ecumênica. Já vimos anteriormente que o tema fala de fraternidade e de diálogo, como compromisso de amor, inspirando-nos na Carta de São Paulo aos Efésios (Ef 2, 14): “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (cf. Texto-Base = TB 1). O texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica não se cansa de apresentar que Cristo é nossa referência, nossa paz e, por isso, devemos derrubar muros e construir pontes, vivendo a comunhão na diversidade: “O Batismo exige que nos esforcemos em favor de comunidades que expressem a unidade na diversidade” (TB 144). Construir muros significa dar força para expressões que criam separação, indiferença, violência e ódio; construir pontes possibilita a fraternidade e a cultura do encontro e da paz (TB 7). Cristo será sempre nossa referência: “A paz que brota da fé em Cristo é a superação da inimizade e do ódio. Ela promete a unidade (Ef 4,1-6), enquanto o ódio provoca inimizades e agressões e a guerra mata e destrói. A paz permite cuidar e reconstruir a convivência social – ‘sois da família de Deus’ – irmãos e irmãs (Ef 2,19)” (TB 129).
Concluímos nossa mensagem, rezando novamente a Oração da Campanha da Fraternidade Ecumênica, que coloca diante de Deus este tema do diálogo, da paz, dos muros, das pontes e outros: Oremos, irmãos e irmãs!
“Deus da vida, da justiça e do amor, Nós Te bendizemos pelo dom da fraternidade e por concederes a graça de vivermos a comunhão na diversidade.
Através desta Campanha da Fraternidade Ecumênica, ajuda-nos a testemunhar a beleza do diálogo como compromisso de amor, criando pontes que unem em vez de muros que separam e geram indiferença e ódio.
Torna-nos pessoas sensíveis e disponíveis para servir a toda a humanidade, em especial, aos mais pobres e fragilizados, a fim de que possamos testemunhar o Teu amor redentor e partilhar suas dores e angústias, suas alegrias e esperanças, caminhando pelas veredas da amorosidade.
Por Jesus Cristo, nossa paz, no Espírito Santo, sopro restaurador da vida. Amém” (TB, p. 82).
Dom Aloísio Alberto Dilli – Bispo de Santa Cruz do Sul