Quem ama tem pressa
Já está em fato a 33ª Jornada Mundial da Juventude. Ela está se realizando em Portugal, na sua capital Lisboa. Foram inscritos mais de um meio milhão de jovens de todas as partes dos cinco continentes. Esses, por sua vez, estão acolhendo talvez mais que o dobro/triplo de jovens que estarão presentes nos diversos momentos da Jornada.
O tema que está congregando essa multidão de jovens com as diversas e diferentes cores de bandeiras de seus países é: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39). Essa frase bíblica, que tornou-se o tema da JMJ de Lisboa, é uma frase de Maria de Nazaré, que ela pronunciou logo depois do seu SIM ao desígnio do Senhor-Deus de escolhê-la para gerar o próprio Filho de Deus. Segundo essas palavras, ela, Maria, de fato levantou-se e foi apressadamente para uma cidade da Judeia. Ela tinha pressa para ir e cuidar de sua prima Isabel idosa e grávida, mas especialmente para comunicar à sua prima Isabel o grande mistério que tinha acontecido na sua mente, no seu coração e no seu corpo. Tornou-se a primeira evangelizadora e missionária de Cristo.
Dizemos que “a pressa é inimiga da perfeição”. Serve em algumas vezes para a nossa vida. Mas talvez tenhamos que rever este provérbio, especialmente em relação à categoria fundamental do amor. Na verdade, “quem ama tem pressa”, isto é, sempre corre para marcar presença junto ao Outro-Deus e aos outros-irmãos. De modo especial, quem ama corre para cuidar, para conviver, para gerar, para plenificar. Maria de Nazaré não foi à casa de sua prima Isabel para passar férias: ficar cômoda e tranquila numa contemplação solitária do mistério divino que envolveu a ela e a sua prima. Mas, ela foi para amar, e amar com pressa, sem perder tempo. Nessa pressa de amar, aconteceu a comunicação dos mistérios da ação de Deus que fez a vida presente no seio de Isabel “pular de alegria”. E desse encontro de amor com pressa e, por isso com “estupor”, nasceu o cântico mais magnânimo possível: o “Magnificat”. Ele é o cântico dos cânticos do amor de quem tem pressa de amar e, por isso, tem pressa de cantar as maravilhas do amor de Deus.
Como o Papa Franciso entra na JMJ de Lisboa e a pressa do amor? Primeiramente, foi ele que escolheu o tema da JMJ propondo a frase de Maria: “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39). Claramente ele expressa que acredita e aposta na capacidade de amar dos jovens, também dos jovens conectados dos nossos tempos. Ele quer olhar nos olhos e nos corações dos milhares de jovens reunidos em Lisboa e dizer-lhes: “Levantem-se”, não tenham medo de nada; é hora de incendiar a civilização de hoje e de amanhã com o amor de Deus; basta de ódio (e aí ele pensa nas guerras, em especial a guerra na Ucrânia que tanto o faz sofrer). Mais, ele vai pedir “pressa” neste fogo do amor dos jovens. Não há mais tempo para perder!
Em segundo lugar, nessa JMJ Lisboa, o Papa Francisco está mostrando aos jovens do mundo inteiro, que ele é o “Papa da pressa”. Ele, mesmo com seus 86 anos de vida, sem vergonha de manifestar sua fragilidade humana, com pressa vinha se preparando para a Jornada, com pressa foi ele o primeiro a inscrever-se como peregrino, com pressa convidava reiteradamente os jovens a participar, com pressa foi e está no meio dos jovens em Lisboa. O Papa sabe que os jovens entendem sua pressa em amar, que se manifesta nos seus tantos sonhos, nos seus tantos projetos, nas suas grandes esperanças, na sua total certeza do amor de Deus.
A pressa de amar de Maria de Nazaré e do Papa Francisco, não é a “agitação” do mundo contemporâneo – uma doença que não sabe nem mais refletir sobre o que vive e faz – chega a ser “preguiça” de viver e fazer com intensidade. A pressa de amar é o abandono nas mãos do Deus-Amor, senhor da história, que não cansa de sonhar com a criação inteira e a humanidade como reflexos do seu amor.
Tenhamos “pressa” de amar. Não tenhamos “preguiça” de amar. Olhemos sempre para o próprio Jesus de Nazaré, o filho de Deus. Ele tem pressa: “Oh! Como eu queria que este fogo (o amor) incendiasse toda a terra” (Lc 12,39).
Dom Jacinto Bergmann, Arcebispo de Pelotas