Quem me ama, guarda a minha palavra…
O Santo Evangelho deste 6º Domingo do tempo Pascal, propõe para a nossa meditação e como alimento espiritual Jo 14,23-29, texto preferido no rito para a celebração da Crisma, dia em que os jovens se apresentam para confirmar sua fé batismal e são chamados a refletir com qual consciência e responsabilidade estão buscando esse sacramento. Porque amam a Jesus ou por mera tradição familiar?
Como ministro deste sacramento, em minha homilia, procuro ajudá-los a tomar consciência que este é um momento dos mais importantes de suas vidas e que nesta ocasião tem que falar o coração, movidos pela fé e pelo amor. Tanto a fé como o amor exige coração. Paulo fala que precisa acreditar com o coração. E é impensável amar sem se envolver afetivamente, sem coração.
Esse texto é precedido por outros dois belos textos bíblicos: Ezequiel 36,24-28, onde o profeta diz ao povo de Israel: “Eu vos darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós. Arrancarei do vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne; porei o meu espírito dentro de vós… Sereis o meu povo e eu serei o vosso Deus”. E o segundo é a narração da experiência de Pentecostes, ocasião em que os discípulos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar, a dar testemunho da Ressurreição de Jesus (cf At 2,1ss).
São todos textos fortes, Palavra de Deus, que deixam os jovens de cabelo em pé, atentos e parecem não acreditar que algo tão bonito e profundo possa acontecer com eles. Parece que arregalam os olhos e se acende em seus corações uma coisa muito boa, algo muito grande que ainda não conseguem captar bem todo o significado. O brilho nos olhos está a dizer que aceitam e querem ser agraciados com o dom do Espírito Santo, o amor de Deus a ser derramado em seus corações.
Tudo fica mais claro quando ouvem Jesus dizer aos seus discípulos: “Se alguém me ama, guardará minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guardará a minha palavra” (Jo 14, 23). O que significa guardar a palavra, senão acolhe-la no coração e deixar que anime suas vidas, modelando seu jeito de pensar, ser, rezar, sentir e fazer?
Deixemos que essa palavra mecha também conosco, com nosso coração, cativando-nos ao seu seguimento, a buscá-lo de coração, deixando-nos amar e respondendo com amor Aquele que nos amou primeiro e que está muito mais perto de nós daquilo que conseguimos imaginar e pensar. Sim, somos moradas da Trindade, habitados pelo amor misericordioso de Deus, manifestado em Jesus crucificado/ressuscitado.
Para refletir: Como ressoa dentro de mim essa reflexão? Já recebi os sacramentos da Iniciação cristã? Sinto-me habitado por Deus? Se for vasculhar na minha memória intelectiva e afetiva percebo a presença do amor de Deus, do Espírito Santo derramado em mim pelo próprio Deus no dia do meu Batismo e plenamente na Crisma?
Textos bíblicos: Ez 36, 24-28; Jo 14, 23-29; Sl 66(67).
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório