Querida Amazônia
O Papa Francisco divulgou nesta última quarta-feira (12/02) a esperada Exortação Apostólica sobre o Sínodo da Amazônia, intitulada “Querida Amazônia”. O referido Sínodo aconteceu em outubro do ano passado no Vaticano.
Na Exortação pós-sinodal, de imediato, chama a atenção o próprio título: “Querida Amazônia”. É um indicativo do apreço que o Papa Francisco tem para com os povos e as igrejas da Amazônia. Eles são queridos, amados pelo papa, como também toda a biodiversidade ali existente. Esta afetuosa manifestação do Papa se deu também pela convocação desse Sínodo, que motivou aos católicos do mundo inteiro a tarefa de cuidar bem desta parte do planeta. Pois, “o Senhor, que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar dos nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá de presente cada dia.” (QA, n. 41).
Outra surpresa da Exortação é que, ao invés de apresentar conclusões teóricas, nela o Papa nos convida a compartilhar quatro sonhos sobre a sua querida Amazônia: um sonho social, um sonho cultural, um sonho ecológico e um sonho eclesial.
No aspecto social, Francisco sonha para a Amazônia o compromisso de todos na defesa dos direitos dos mais pobres, dos povos originários, dos que estão nas periferias geográficas, sociais e existenciais. No aspecto cultural, o Papa sonha uma Amazônia que preserva a sua riqueza cultural, que implica em “não a colonizar culturalmente, mas fazer de modo que ela própria tire fora o melhor de si mesma. Tal é o sentido da melhor obra educativa: cultivar sem desenraizar, fazer crescer sem enfraquecer a identidade, promover sem invadir” (QA, n. 28).
Seu sonho ecológico é de uma Amazônia que protege sua vida transbordante, nela existe uma relação tão estreita do ser humano com a natureza, onde a vida diária é sempre cósmica. Para o bom cuidado da Amazônia é preciso “conjugar a sabedoria ancestral com os conhecimentos técnicos contemporâneos, mas procurando sempre intervir no território de forma sustentável, preservando ao mesmo tempo o estilo de vida e os sistemas de valores dos habitantes” (QA, n. 51).
Por fim, o Papa sonha com comunidades cristãs capazes de encarnar-se na Amazônia e construir uma Igreja com rosto amazônico. Para isso é preciso uma espiritualidade encarnada, dialogante, inculturada, misericordiosa que, sendo verdadeiramente cristã, saiba deixar-se enriquecer por outras espiritualidades e cosmovisões ancestrais, como são as dos povos indígenas da Amazônia, com quem muito temos a aprender em relação ao respeito e cuidado das criaturas, das quais não somos mais que guardiões.
Depois de partilhar alguns sonhos, o Papa Francisco exorta todos a avançar por caminhos concretos que permitam transformar a realidade da Amazônia e libertá-la dos males que a afligem, confiantes na intercessão da Mãe de todos: “Agora levantemos o olhar para Maria, a Mãe que Cristo nos deixou” (QA, n. 111).
Louvemos ao Senhor pelo trabalho, dedicação e testemunho do Papa Francisco e pela magnifica Exortação Apostólica “Querida Amazônia”, onde nosso querido Papa se mantém estreitamente ligado às fontes essenciais da Teologia cristã, quais sejam: a Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério da Igreja.
Dom José Mário Scalon Angonese – Bispo de Uruguaiana