Rainha e Bendita entre as mulheres

 

O dia litúrgico da Festa da Medianeira é 31 de maio, dia em que a Igreja celebra a Visitação de Maria a Santa Isabel. Este gesto é sinal antecipado da visita que Deus fará a seu povo. Maria, escutando a Palavra e acolhendo o mistério, vai ao encontro de Isabel que representa todo o povo de Israel que aguarda o “Messias”. Quando Maria chega, Isabel reconhece que é o próprio Senhor que entra em sua casa.

Maria é bendita porque foi agraciada por Deus com a bênção para ser a Mãe do Verbo. E, ao dizer que ela é a “bendita entre as mulheres”, entende-se que ela é abençoada no grau superlativo, isto é, superbendita, abençoadíssima, a mais abençoada. Ela é abençoada não só para si, mas igualmente para tudo o que está em torno dela: o povo de Israel e toda a humanidade que se beneficiarão de sua maternidade.

Na casa de Isabel, Maria expande seu louvor cantando o Magnificat. Nele revela-se o Deus que habita numa luz inacessível, mas é, ao mesmo tempo, próximo, que se expressa para os pobres e humilhados, como o Deus da graça.  A resposta de Maria ao convite do anjo ecoa e se expande no Magnificat. Gabriel diz a Maria: “Alegra-te!” (1,28); Maria responde: “O meu espírito se alegra em Deus” (1,47); o  anjo diz: “Encontraste graça diante de Deus” (1,30); ela proclama: “Ele olhou para a pequenez de sua serva” (1,48); o mensageiro orienta: “Lhe porás o nome de Jesus” (1,31); Maria se alegra em Deus: o “Salvador” (1,47); é dito que o seu Filho “será grande” (1,32), e ela exclama: “A minha alma engrandece o Senhor” (1,46); Gabriel anuncia que seu filho reinará, e o seu Reino não terá fim (1,33), e Maria canta a grandeza do Reino, dizendo que os poderosos serão derrubados de seus tronos, e os humildes serão exaltados. (1,51-53).

O Magnificat, enfim, canta a felicidade de quem reconheceu a ação de Deus em seu favor. É a alegria do coração de quem escutou seu Senhor. É um louvor pessoal, social e cósmico. Maria canta a salvação que virá para cada ser humano, para todas as nações e a Criação inteira. Ela glorifica o Senhor com todo o seu ser, porque Deus, o Salvador, colocou seu olhar consolador sobre a pobreza de sua serva e realizou nela grandes coisas em favor de muitos.

O Cântico de Maria recolhe toda realidade concreta da vida humana e dá prioridade aos pobres, aos humilhados e altera as situações injustas causadas por aqueles que pregam a lei sem os critérios do bem comum. Nesse sentido, canta-se o fim do pecado – mal teológico, o fim das injustiças – mal social, e do racismo que privilegiava a salvação somente para Israel – mal étnico. Todos esses males são superados em Maria, a Virgem pura e imaculada, a pobre mulher de Nazaré e a descendente de Abraão que se compreende portadora de uma nova realidade para toda humanidade.  O Magnificat não faz uma descrição de Deus, mas atesta que há somente uma poetiza capaz de celebrá-lo e de enaltecê-lo com perfeição: Maria, a mulher do Reino de Deus.  A Rainha que Deus colocou escolheu entres os pobres de seu povo.

Quanto mais compreendermos essa verdade revelada do amor de Deus que se reflete no Magnificat, mais seremos livres para amar, cantar e rezar, trabalhando por dias melhores para todos. Afinal, como Maria, o sentido da vida está em sair de si, percorrer as montanhas, encurtando as distâncias que nos separam uns dos outros.  Essa é a realeza de Maria Santíssima.

 

Dom Leomar Antônio Brustolin – Arcebispo Metropolitano de Santa Maria e Presidente do Regional Sul 3