Reimaginar nossos futuros juntos

Em 2019, a UNESCO constituiu a Comissão Internacional sobre os Futuros da Educação. Com o objetivo de elaborar propostas alternativas para a educação até 2050,  a comissão suscita o debate em torno de três grandes perguntas: o que devemos continuar a fazer? O que devemos abandonar? O que deve ser reinventado de maneira criativa? Esse esforço colaborativo abre-nos algumas pistas para a construção de propostas pedagógicas centradas no conhecimento e no exercício da cidadania, alterando o curso que até então vinha sendo feito pelas Instituições Educativas.

O Relatório Dellors, no alvorecer do século XXI indicava os quatro pilares para a educação do futuro: Aprender a Aprender, Aprender a Conviver, Aprender a Fazer e Aprender a Ser.  Deslocando o foco dos conteúdos, os educadores foram convidados a pensar mais na pessoa como construtora do conhecimento. Não se trata de um conhecimento que preenche o intelecto, mas de uma atitude de aprendizagem que tenha consequências na vida cotidiana.

Adotar a atitude de aprendiz durante toda a vida requer abertura para entender que a educação ultrapassa os muros da escola e da universidade, que o mundo é fonte de aprendizagem e demanda disponibilidade de mudar, caso necessário. Com esse viés, tem-se insistido no tripé da aprendizagem deste novo tempo: aprender, desaprender e reaprender rapidamente é condição não apenas para uma atualização pessoal, mas para novas experiências coletivas de fraternidade, solidariedade e de crescimento enquanto civilização.

Nessa trajetória, educadores, instituições e  a própria sociedade serão chamados a contribuir de modo eficaz pensando cenários e propostas diferenciadas capazes de contemplar as realidades, tão distintas e tão ricas ao mesmo tempo. Que opções ajudar-nos-ão a tornar a educação mais inclusiva, menos moralista e mais humanizante? Que práticas educacionais precisarão ser deixadas para trás, a fim de se garantir não apenas o acesso à educação, mas a permanência dos estudantes na escola e, mais do que isso, uma educação que tenha incidência positiva na vida dos indivíduos, ajudando-os no processo de autonomia, de projetar a vida e realizá-la de forma ótima? Que reflexões são necessárias enquanto sociedade, a fim de valorizar a pessoa do docente, de garantir sua permanente qualificação e acompanhamento, bem como equacionar as circunstâncias que levam educadores e educadoras à exaustão?  E, dentre outras questões, que processos precisam ser empreendidos no sentido de oferecer uma educação integral, que contemple a pessoa como uma totalidade, oportunizando não apenas competências profissionais, mas também humanas, espirituais e relacionais?

São muitas as perguntas e inúmeros os desafios. Não temos a educação que queremos! Estamos muito longe do que pode ser considerado educação de qualidade (não em âmbito mercadológico, mas humano). Não temos muita certeza de quais caminhos seguir, mas compreendemos bem que não é possível continuar a pensar a educação de modo isolado, individualista e descontextualizado. Como bem diz o documento da Unesco “Construiremos um novo contrato social para a educação por meio de milhões de atos individuais e coletivos: atos de coragem, liderança, resistência, criatividade e cuidado.” Não há mais tempo a perder. Em nosso país, a Educação Católica tem um rico lastro no que diz respeito à experiência e à autoridade em educação. Como seria bom um Pacto primeiro entre nós, com o estabelecimento de metas de apoio e interajuda que transcendam nossos pequenos grupos, em prol de um projeto educativo como contribuição com a educação nacional. Por que não unir forças com os organismos vivos como a ANEC, a CRB, a CNBB e outras instituições afins, colocando-nos à disposição da sociedade para pensar, construir e tornar realidade uma educação ousada, sem perder os princípios cristãos? O chamado aí está. “Se ouvires a voz do vento… A DECISÃO É TUA!”

Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade